segunda-feira, abril 16, 2018

Opinião: 2019. O resto é paisagem…


A política regional madeirense está cada vez mais condicionada à consequência decorrente pela amplitude do confronto político entre o poder regional social-democrata e os socialistas locais - estes mais a reboque dos efeitos da governação nacional do que por mérito próprio, até porque falamos de um partido que no xadrez político regional sofreu uma duríssima derrota em 2015.
Neste quadro de bipolarização envergonhadamente assumida, PSD e PS pretendem condicionar a agenda política e a agenda eleitoral regional, levando por arrastamento os demais partidos locais, de menor dimensão no espectro político regional, que começam a perceber que podem vir a ser extraordinariamente úteis na negociação de cenários partidários posteriores às eleições regionais de 2019.
Para os madeirenses 2019 será um ano triplamente eleitoral, já que às europeias e às legislativas nacionais - que mobilizarão todos os portugueses - acrescem as regionais.
Lembro que em 2015, depois da mudança de liderança no PSD, com Miguel Albuquerque a suceder a Alberto João Jardim, depois de um disputado processo de directas internas nos social-democratas no final de 2014, o PSD obteve nas regionais antecipadas de Março de 2015 e nas legislativas nacionais de Outubro desse mesmo ano, os seus piores resultados de sempre, num quadro eleitoral marcado por abstenção recorde. Nas autárquicas de 2017, apesar de ter sido o partido mais votado, o pecúlio em mandatos ficou muito aquém do pretendido, não ultrapassando as 4 em 11 Câmaras Municipais que os social-democratas já haviam conquistado em 2013 com Jardim na liderança.

A maioria absoluta que o PSD dispõe no parlamento regional é de apenas um deputado - ela já tinha sido escassa em 2011, ainda com Jardim na liderança do PSD - pelo que a conjugação de todos estes factos eleitorais faz com que as regionais de 2019 estejam rodeadas de grande expectativa e porventura venham ser as mais disputadas de sempre, sem que isso signifique que o PSD não as pode voltar a vencer, embora com consequências parlamentares diferentes das que existiram até hoje.
A pressão do PS regional - que mudou de liderança este ano, num quadro político interno radicalizado e ainda não devidamente esclarecido, sabendo-se apenas que o sacrificado acabou por ser Carlos Pereira, anterior líder e actual deputado na Assembleia da República (aliás, cada vez mais há a convicção de que foi esta sua opção pelo parlamento nacional em detrimento do regional que fragilizou Pereira e o deixou fragilizado sem o controlo de algumas estruturas importantes na decisão da disputa eleitoral interna, como se veio a verificar) - tenderá a aumentar mas existem outras situações a considerar.
O Bloco de Esquerda mudou de liderança e sabe que 2019 será um teste decisivo à sua própria existência; o CDS, maior partido da oposição regional (resultados de 2015), tem tido alguns sintomas de instabilidade interna associados à sua liderança; a JPP terá em 2019 um teste decisivo à sua afirmação como partido regional e não apenas autárquico e circunscrito a uma Câmara Municipal local (Santa Cruz); o PCP na crónica estabilidade interna, tentará sobretudo a sobrevivência e o eventual reforço da sua representação eleitoral que lhe assegure a manutenção de pelo menos um grupo parlamentar na assembleia regional.
Apesar das absurdas ideias, alegadamente defendidas por alguns sectores - não identificados - do PSD regional de antecipar as eleições regionais de Outubro de 2019, para tentar estragar os planos do PS regional, mas colando-as perigosamente aos previsíveis efeitos positivos da governação nacional nos resultados eleitorais das legislativas nacionais de 2019 - o que demonstra alguma confusão analítica na maioria regional - vamos continuar a assistir a uma situação no PS algo caricata.
Caricata porque o novo líder dos socialistas, Emanuel Câmara - que destronou este ano Carlos Pereira da liderança do PS - nunca escondeu que não seria ele a disputar com Albuquerque a chefia do governo regional em 2019 mas que tal empreitada será protagonizada por Paulo Cafofo, Presidente da Câmara do Funchal que a ganhou em 2013 - ainda com Jardim na liderança do PSD local - e em 2017, sucesso eleitoral este agora com maioria absoluta.
Cafofo virou o trunfo eleitoral que o PS vai usar para tentar conquistar o poder regional em 2019, embora num quadro eleitoral que nada tem a ver com o autárquico - onde o sucesso de Cafofo se ficou a dever em grande medida a uma coligação com vários outros partidos - o que poderá ser decisivo.
Isto porque, se nas autárquicas os partidos nada têm a ganhar ou a perder concorrendo coligados previamente, já nas regionais, sobretudo depois do fracasso da coligação liderada pelo PS em 2015, a sobrevivência desses partidos (até em termos financeiros) passa por concorrer separadamente às eleições (LFM, Jornal Económico)

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