sábado, fevereiro 24, 2018

A falta de comida fez venezuelanos perderem 11 quilos num ano

Os números são avassaladores: 64,3% da população venezuelana perdeu 11kg de peso no ano de 2017 e mais de oito milhões fazem duas ou menos refeições por dia. Num país à beira do colapso, com uma inflação de 2 616% e sem importações de comida que cheguem para viver com o mínimo de dignidade, é cada vez mais difícil sobreviver. Esta quinta-feira, o hospital de Maturín, a sudeste de Caracras (capital da Venezuela), anunciou que, em dois meses, 18 crianças morreram por desnutrição. O regime do presidente Nicólas Maduro tenta esconder esta dura verdade não fazendo estatísticas oficiais desde há cinco anos, mas a realidade está à vista de todos. Assim, investigadores das três mais importantes universidades da Venezuela começaram, em 2014, a fazer um inquérito que denominam Estudo Sobre as Condições de Vida (com uma amostra de 6 168 casas). As conclusões deste ano, referentes a 2017, são piores do que as do ano anterior. Em 2016, os venezuelanos tinham perdido 8kg de peso.

A grave crise alimentar tem consequências para a saúde. Nutrientes, como o ferro, escasseiam nas prateleiras dos supermercados. A carne e as hortícolas, uma das fontes de ferro, quase não existem e quando aparecem voam, mesmo que as preços exorbitantes para a capacidade financeira da população. Mandioca e arroz passaram a ser a base da alimentação, segundo o estudo. A farinha de milho pré-cozida, que serve para fazer a arepa – um prato de massa de pão, também conhecido como tortilha, e que é uma comida emblemática da gastronomia venezuelana – foi, pela primeira vez, relegada para segundo plano nas compras. É, também, uma fonte de ferro, mas a que chega agora ao país, encomendada pelo governo, é uma versão não fortificada.
Com 87% da população numa situação de pobreza, mais 39% do que em 2014, a emigração tem sido a solução para muitos. Outrora um país de imigrantes, a Venezuela passou a ser de emigrantes. Estima-se que em cinco anos, entre 2012 e 2017, cerca de 815 mil pessoas tenham saído, sobretudo para países vizinhos, como a Colômbia, Chile, Argentina ou Peru. Em apenas um ano, quase 200 mil pessoas perderam o emprego, 60% têm trabalhos informais e um milhão de crianças entre os 3 e os 17 anos não vai à escola. A miséria passou a ser o novo normal, com 61,2% das pessoas a dizerem que se deitam com fome. Há mães que têm de escolher a que filho dar proteínas num dia em detrimento de outro. (Visão, texto da jornalista Sara Rodrigues)

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