terça-feira, dezembro 19, 2017

Emigrantes estimulam imobiliário na Madeira

A loucura pela procura de imóveis também chegou à Região Autónoma da Madeira. São portugueses, muitos provenientes da Venezuela, mas sobretudo estrangeiros que fizeram com que, no último ano, o crescimento médio do preço das casas e o valor das avaliações bancárias tenham disparado. De acordo com dados da Direção Regional de Estatística da Madeira, no segundo trimestre de 2017 foram vendidos 616 alojamentos familiares. Um número ligeiramente inferior aos 693 do trimestre anterior mas superior às 523 casas vendidas em igual período de 2016. Contas feitas este ano, até junho, houve 1309 casas vendidas, correspondendo a €158,1 milhões — em seis meses, mais de metade do número que foi possível apurar para todo o ano de 2016 (2247), equivalente a €275,8 milhões. Uma tendência que se verifica desde o último trimestre de 2015 e a que o fenómeno do regresso de muitos portugueses emigrados na Venezuela, mas também na África do Sul, não é alheio, principalmente quando falamos do mercado de luxo — casas acima de meio milhão de euros. É pelo menos esta a sensibilidade da Sotheby’s, que está na Madeira há cerca de um ano e trabalha em exclusivo com a classe alta. Ao Expresso, o diretor-geral da Sotheby’s, Miguel Poisson, diz que “a maioria dos negócios são com clientes internacionais [cerca de 66%]”, dos quais metade são cidadãos da União Europeia (33%), sendo as nacionalidades mais representativas a francesa, a sueca, a alemã, a inglesa e a norueguesa.

Os restantes 33% são de fora da União Europeia, mas apesar de o destaque ir para a Venezuela e para a África do Sul — pela via da obtenção de vistos gold — a verdade é que uma boa parte destes tem de ser considerada compra por parte de portugueses, por se tratarem de emigrantes e lusodescendentes. Miguel Poisson afirma que as finalidades da compra são variadas — desde a habitação própria por parte de muitas famílias do segmento alto que estiveram expectantes durante a crise até à compra para segunda habitação, passando pelo investimento para revenda ou arrendamento e pela procura para alojamento local, particularmente através da remodelação de apartamentos, sobretudo no centro histórico do Funchal.
OFERTA NÃO CHEGA  PARA TANTA PROCURA
Com tanta procura, é natural que os preços subam, já que a oferta não tem conseguido dar resposta. Em média, o preço das casas subiu cerca de 5% no último ano. E os dados oficiais mostram que o valor médio global da avaliação bancária na região disparou €86 por metro quadrado em apenas um ano. Uma média que sobe para mais de €141 por metro quadrado se considerarmos só as avaliações no Funchal, entre outubro de 2016 e outubro passado.
O diretor-geral da Sotheby’s está otimista. Garante que “há produto e haverá mais no futuro, porque começam a aparecer novos projetos”. No segmento sem ser de luxo, o responsável da RE/MAX na Madeira critica a falta de oferta e aponta o dedo à Câmara Municipal do Funchal. Ao Expresso, Jaime Abreu assegura que “o pelouro do urbanismo não dá respostas. Há muito investimento parado à espera e perdem-se negócios”. A falta de casas é uma das razões pela qual a RE/MAX não crescerá muito na Madeira este ano face ao ano passado. Com duas agências na ilha, a imobiliária estima, a pouco mais de 15 dias de fechar o ano, que já atingiu um volume de negócios de cerca de €26,5 milhões, com o preço médio de venda a rondar os €350 mil.
Também neste caso, os clientes são, sobretudo, portugueses, onde se incluem lusodescendentes e emigrantes oriundos da Venezuela, garante Jaime Abreu. Já no que toca à procura por parte de estrangeiros, “continuamos om o mercado tradicional: inglês e alemão”. A que acrescem os mercados francês e belga. E alguns holandeses. “O mercado mudou. Quem tinha €200 mil ou €300 mil no banco deixou de confiar ou sente que há falta de remuneração e opta por investir em imóveis”, constata o especialista da RE/MAX. Os números do crescimento da compra de casas no arquipélago são corroborados pela banca. “O mercado de crédito à habitação na Região Autónoma da Madeira tem vindo a mostrar tendência positiva, que se deve manter”, refere fonte oficial do Santander Totta, o banco que detém uma quota de mercado próxima de 25%, com um em cada quatro dos novos contratos à habitação a ser feito pela instituição. A mesma fonte assegura que esta procura “está concentrada no regresso dos emigrantes, principalmente da Venezuela, no aumento do peso do investimento estrangeiro (ingleses, russos e franceses) e naturalmente na população local, quer por troca de casa ou aquisição de novas habitações”.

De resto, o Santander Totta é também o banco com mais balcões, fruto da aquisição do Banif. É seguido de longe por BCP e CGD. O Millennium bcp assegura que o crédito à habitação cresceu 42% na Madeira nos primeiros nove meses do ano face ao homólogo, embora “operações contratadas por cidadãos estrangeiros sejam residuais”. Uma posição semelhante à da CGD. Fonte oficial do banco público diz que a quota de mercado na Madeira está em linha com a evolução e a quota no contexto do mercado nacional como um todo. Para o diretor-geral da Sotheby’s, este fluxo não vai parar, até porque a Madeira acaba por beneficiar dos bons ventos que sopram no continente em matéria de imobiliário: “Fruto da melhoria das condições económicas e de mais concessão de crédito. Além disso, Portugal é divulgado lá fora como excelente destino e com um regime fiscal muito favorável para estrangeiros”, recorda Miguel Poisson (Expresso, texto da jornalista Alda Martins)

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