sábado, novembro 12, 2016

Opinião: As sondagens falharam nas presidenciais americanas?

A vitória do candidato republicano sucedeu contra todas as previsões. Enfim, quase todas. Ao longo dos últimos dois meses de campanha, nove sondagens Los Angeles Times/USC deram, de forma consistente, a vitória a Donald Trump. E na reta final da campanha, uma outra, da Fox News entregava também a Casa Branca ao milionário. Isto num total de 93 sondagens recenseadas entre 8 de setembro e 7 de novembro pelo site Real Clear Politics.
Mas a regra era o contrário, a poucos dias da votação, o site americano FiveThirtyEight dava 33% de hipóteses para a vitória de Donald Trump, "o que era muito mais generoso do que muitas outras previsões", recordava hoje de manhã o The Daily Telegraph. Muitas outras projeções não lhe atribuíam mais de 15% de possibilidades de vitórias, ou seja uma em cinco.

O facto é que os Estados Unidos são uma sociedade extremamente diversificada, dividida, complexa nos planos social, cultural, étnico e religioso. Por isso, as sondagens realizadas num certo momento não poderiam refletir mais do que esse momento, aliás como os inquéritos de opinião realizados na última semana de campanha o demonstraram ao evidenciarem uma clara redução do intervalo entre as intenções de voto nos dois candidatos.
No entanto, foram tratadas como previsão antecipada de um resultado que parecia inevitável pela própria atmosfera mediática globalmente alinhada com Hillary Clinton e pelo clima de conflito evidente entre uma parte de nomes relevantes no campo republicano e o candidato.
Mas o erro central nas sondagens é o de terem sido tomadas como a antecipação do comportamento dos eleitores que, como se viu, foi distinto das previsões, sendo que estas, na maioria dos casos, assentavam em pressupostos políticos. E mesmo nos últimos dias, com a redução da margem de intervalo entre os dois candidatos, continuou-se sempre a dar como adquirido que Hillary Clinton prevaleceria sobre Trump. Após a contagem de votos, as sondagens e seus pressupostos acabaram no ridículo.
Veja-se o voto feminino. Aqui, Hillary alcançou uma vantagem de dois pontos percentuais, com 49%, sobre Trump, que teve 47%. Uma margem demasiado pequena tendo em consideração que se estava perante a primeira mulher candidata por um grande partido à Casa Branca. A Reuters compara o resultado de Hillary face ao resultado de 2012 de Barack Obama no mesmo universo eleitoral, e nota que o presidente cessante conseguiu então uma vantagem de sete pontos percentuais.
Ainda no universo feminino, mas no âmbito de eleitoras com idades entre os 18 e os 34 anos, se a vantagem da candidata democrata é aqui maior perante Trump, com 55% dos votos contra 38% para o republicano, mais uma vez os resultados de Obama são superiores: 62% em 2012. As sondagens davam como adquirido que Hillary teria consigo a maioria do voto feminino; no final, após quatro décadas de vida pública, mostrou-se uma figura controversa, distante, incapaz de empatia no grau suficiente para chegar à vitória.
Como Trump destacou no discurso de vitória, a sua campanha foi mais do que uma campanha, foi um "movimento" e um movimento que, apesar de todos os pequenos e grandes escândalos que o envolviam, nunca chegou a perder dinâmica. A sua diretora de campanha, Kellyanne Conway, podia dizer nos últimos dias que "estamos a ampliar o nosso mapa [de estados onde Trump podia ganhar] e estamos agora a competir em estados onde há meses as pessoas diziam que não tínhamos qualquer hipótese". E mesmo em segmentos eleitorais onde a democrata detinha uma confortável margem - caso dos eleitorados hispânico (66%), afro-americano (89%) e asiático (65%) - as percentagens de Obama em 2012 foram superiores: 96% entre os afro-americanos, 70% entre os hispânicos e 67% entre os eleitores asiáticos.
Trump insistia, por outro lado, que as sondagens eram elaboradas, de forma deliberada, para revelarem menos apoio popular do que realmente existia em torno da candidatura e a minarem o estado de espírito dos seus apoiantes. E, pelo menos em parte, o republicano tinha razão como se verifica na contabilidade do voto dos eleitores sem educação superior. Aqui, a vantagem de Trump é clara, quer entre os homens quer entre as mulheres: 31 pontos percentuais de vantagem sobre Hillary no eleitorado masculino e 27 pontos percentuais no eleitorado feminino.
Outro revés para Hillary: a sua vantagem eleitoral é mínima nas áreas urbanas, com seis pontos percentuais à frente de Trump que, por sua vez, obtém larga vantagem no eleitorado rural - 27 pontos percentuais sobre a candidata democrata.

Houve, no entanto, um ponto em que as sondagens - ainda que não todas - acertaram: o do voto do eleitorado evangelista branco, esmagadoramente concentrado em Trump, que obteve aqui 76% de votos, praticamente o mesmo resultado do candidato republicano, Mitt Romney, em 2012. Hillary teve aqui 20% de votos (texto de Abel Coelho de Morais, DN-Lisboa com a devida venia)

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