Responsáveis do segundo diário mais vendido no Japão e
no mundo revelam ao DN que a circulação tem vindo a decrescer e que já apostam
num "jornalismo de solução". Se existe um país onde a crise do papel
parece ainda não afetar, pelo menos de forma galopante, os principais jornais
nacionais, esse país é o Japão. A ele pertence o top 3 dos títulos mais
vendidos em banca a nível mundial, o que significa que a transição para o
jornalismo digital tem sido mais demorada do que nas regiões ocidentais. Asahi
Shimbun, o segundo jornal diário mais vendido no Japão e no mundo, estreou-se
no universo online relativamente cedo, quando comparado com os seus
concorrentes. Em 2011 - no mesmo ano que o The New York Times, um dos pioneiros
- lançou o seu modelo de subscrição digital, aquilo a que os responsáveis
gostam de chamar "jornalismo de solução".
"Não queremos
limitar-nos ao estilo tradicional dos media, por isso estamos à procura de um
jornalismo baseado no uso das redes sociais, bases de dados e grandes
tecnologias", explica ao DN fonte oficial do departamento de comunicação. A
estratégia inovadora do Asahi Shimbun passa ainda pela procura de
"parcerias com organizações não governamentais, com universidades
[incluindo a conceituada Universidade de Harvard, nos EUA] e empresas peritas
no desenvolvimento de tecnologia avançada". Paralelamente, a publicação
tem apostado no seu "laboratório de media, dedicado ao desenvolvimento de
novas iniciativas de negócio e ao lançamento de programas que apoiem firmas e
empreendedores", acrescenta a fonte. Este "jornalismo de
solução" passará muito em breve para primeiro plano, devido ao
"envelhecimento da base de leitores". Quem o diz é o editor de redes
sociais da publicação japonesa, Takeshi Fujitani. "A partir de setembro,
vamos transformar a nossa redação num espaço mais digital. Mas, como ainda
dependemos fortemente dos lucros do papel, muitas pessoas ainda estão
relutantes nesta mudança". Além disso, adverte Fujitani, "o Asahi
Shimbun tem mais de 4000 funcionários, incluindo mais de 2000 jornalistas, pelo
que não é fácil mudar as suas mentalidades". Não é de admirar que assim
seja, já que o papel continua a representar uma porção generosa dos lucros do
Asahi Shimbun - conta-nos o editor que 85% das receitas vêm das vendas da
edição impressa. Ainda assim, sem fugir à tendência mundial, a circulação
diária do jornal tem vindo a decrescer nos últimos anos. "Em 2005,
distribuíamos 8,13 milhões de cópias diárias. Em 2010, esse número desceu para
ser inferior a oito milhões de cópias. E em 2015 já era de 6,7 milhões", revela-nos
o representante do departamento de comunicação.
É por isso que o futuro do Asahi Shimbun passa por
abraçar a revolução digital e não, ao contrário do que muitos tentaram fazer,
sem sucesso, combatê-la. "Em vez de tentarmos recuperar os nossos antigos
números de circulação, vamos dedicar-nos a reforçar a nossa presença online,
especialmente em aparelhos como os smartphones, que vieram mudar a forma como
as pessoas consomem informação. Na verdade, espera-se que os dispositivos
móveis se tornem o principal portal de acesso a notícias", frisa o
responsável. Com cerca de 160 mil subscritores da edição digital - disponível
também em inglês, chinês e coreano -, o Asahi Shimbun orgulha-se ainda da
interatividade que promove junto dos seus leitores no Twitter. Os repórteres,
editores e correspondentes sabem que, sempre que algum acontecimento o
justificar, deverão publicar atualizações em forma de vídeo para que o
acompanhamento do público seja feito quase em direto. "Temos contas do
Twitter dedicadas às secções de Notícias Internacionais, Política, Cultura e
Negócios, bem como páginas dedicadas exclusivamente a medicina, basebol,
futebol, entre outros temas", detalha o porta-voz da publicação nipónica. Fundado
a 25 de janeiro de 1879 por Kimura Noboru, Murayama Ryohei e Tsuda Tei, o Asahi
Shimbun é o segundo jornal com maior volume de circulação a nível global. Fica
apenas atrás do Yomiuri Shimbun, e ultrapassa o Mainichi Shimbun - ambos
japoneses (DN-Lisboa)
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