domingo, fevereiro 21, 2016

Opinião: a propósito da comunicação política

Sustentam os especialistas que "toda e qualquer acção política passa pela comunicação" seja para construir um projecto político, quer seja para governar ou fazer oposição. Tudo isto passa pela comunicação. Segundo Michel Bongrand (O Marketing Político), “para chegar ao poder, assim como para o exercer ou prestar contas ao cidadão, a política é comunicação.” Outros vão mais longe quando sustentam que a própria legitimação do sistema assenta na maior ou menos capacidade de comunicação. Mário Arconada (Teoria e técnica da Propaganda eleitoral) escreveu que “as acções para gerar e manter a crença social da validade das instituições são em grande medida uma tarefa que se dá à propaganda. Nela se atribui a função de difundir os princípios e os valores que fundamentam o exercício ideológico, consolidar a legitimação do sistema".

Os políticos, estejam eles no poder ou na oposição precisam da mediatização das suas figcuras e das suas propostas, sem a qual dificilmente terão possibilidades de dar passos maiores do que a pernas e pensar para além daqueles que são, à priori, os seus limites naturais. Reconhecidamente o processo de "construção de uma imagem" assenta na comunicação política - que nada tem a ver com a propaganda institucional para fins políticos - e na capacidade de persuasão destes junto dos média. Sobretudo da televisão. As agendas dos governante se dos políticos, em campanha eleitoral ou fora dela, passam pela comunicação social. Há, podemos afirmar, uma clara tentativa, comum a quem governa ou a quem quer um dia governar, de pressionar os média para uma situação de submissão, que por vezes chega a ser confrangedora, porque obrigados a garantir cobertura de iniciativas que mais não visam que o voto. São operações de charme pensadas cujo sucesso depende da dimensão da receptividade que os média propiciarem.
Digamos que há uma clara tendência, que até se compreende, pelo "negócio" da troca de informações, pela procura de se ser notícia e de fazer parte da agenda dos média. Curiosamente esta necessidade não se resume às organizações políticas, há que instituições públicas e empresas apostam muito na comunicação porque sabem que a chamada gestão de imagem e/ou de crises exige a continuada existência de uma máquina experimentada e devidamente eficaz. Há momentos em que o amadorismo não tem lugar, tal como é intolerável que partidos, instituições e empresas, só porque usam redes sociais e outros recursos que a internet hoje propicia isso lhes garante a visibilidade pretendida. Mas quando se pretende saber qual o grau de receptividade da mensagem, qual a dimensão da procura ou a quantificação dos acessos, a ignorância é mais do que evidente. Há uma espécie de cumprir calendário, de fazer o que todos fazem e deixa andar. O poder, quer seja a sua manutenção, quer seja a sua conquista, passa por entidades, como sindicatos e grupos de pressão.
Estamos a falar de um trabalho que deve ser entregue a profissionais, que precisam de estabelecer linhas de actuação claras, em concertação com a liderança do partido, da instituição ou da empresa. Não há ligar a amadorismos ou a experimentalismos.
Estamos a falar de um trabalho que aposta na recolha e interpretação de toda a informação disponível e em função dela responder com uma estratégia comunicacional eficaz e de fácil acessibilidade por parte do público-alvo.
Podemos falar de dois objectivos claros associados à comunicação política:
  • dar a conhecer, de forma positiva, a organização partidária, a sua liderança ou uma candidatura num dado momento. É por assim dizer a procura da notoriedade porque ninguém acredita no que é desconhecido. E há muito que foi desmistificada a teoria de que tudo o que é novo cativa de forma permanente as pessoas;
  • influenciar o cidadão eleitor no sentido de sentido acolher a mensagem, de fundamentar essa escolha e de propiciar o retorno da opção tomada nas urnas.

Ou seja, parte da construção de uma imagem, para uma discussão mais alargada com os concorrentes ou adversários políticos.
Quando falo em comunicação política não estou a falar em propaganda política - que obedece a regras mais "levianas", nem no papel das chamadas assessorias de imprensa a quem cabe a construção de pontes de contacto com os meios de comunicação, utilizadas depois pela comunicação política, por via da sua mensagem com um conteúdo diferente relativamente à notícia propriamente dita. Há uma complementaridade entre estes sectores de actividade, mas não pode haver confusão entre eles.
Dou-vos um exemplo: de que serve um partido se vangloriar que tem não sei quantos recursos disponíveis na internet, nos quais fala todos os dias de um deputado, no que diz ou faz, se depois as pessoas, no fundo os que votam e que elegem ou derrotam candidatos e partidos, não conhecem a figura, nunca a viram por perto, nunca com ela experimentaram qualquer empatia?

Outra questão patética mas frequente é vermos políticos, cujos conhecimentos no domínio comunicacional são superficiais - e assenta sobretudo na passagem de notícias e na manipulação de fontes de informação que usam em função dos seus interesses - perorarem sobre comunicação política ou perorarem sobre propaganda ou sobre assessoria de imprensa, numa clara tentativa de venderem de si próprios uma imagem de sabichões de pacotilha que ninguém, felizmente, lhes reconhece ou atribui (LFM)

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