segunda-feira, junho 29, 2015

Opinião: MORALISMOS DA TRETA

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I - Passos Coelho e outras personagens do governo de coligação que ele lidera, foram acusados de colocar gente da sua confiança em lugares públicos no estrangeiro e no país, neste caso sem concurso público que a lei determinaria. Nada tenho a dizer quanto à preocupação de defender os colaboradores mas diretos. Pela simples razão de entender que não é pelo facto de alguém trabalhar com um ministro ou para um secretário de estado, ou ter que aturar Portas ou Passos, que alguém tem que ficar inibido de evoluir na sua carreira profissional na administração pública – no caso dos privados a situação muda de figura porque ninguém está obrigado a coisa nenhuma. Seria lamentável se fossem prejudicados por isso.

O que me espanta é que nesta aparente fuga antecipada (dada a proximidade de eleições) de certos indivíduos que andaram anos a trabalhar nas catacumbas da política e da estrutura governativa (apostadas em que ninguém desse por eles), como adjuntos, conselheiros, assessores, chefes de gabinete e não sei que mais, de repente sejam colocados em embaixadas, consulados-gerais no estrangeiro etc, em empresas públicas ou em lugares do topo da carreira na administração pública sem concurso, e ninguém ache que essa porcaria que enjoa a quilómetros de distância, é normal. Não, não é. Uma coisa são cargos de nomeação política, de confiança pessoal e que caducam com o final do mandato de quem nomeou – e quanto a isso nada a dizer - outra coisa é prejudicar uma pessoa só porque ela esteve a trabalhar com membros do governo. Diferente de tudo isso é reativar deliberadamente embaixadas que tinham sido extintas em 2012, apenas para colocar no lugar o chefe de gabinete do Passos Coelho. Ou recriar em Bruxelas um lugar diplomático que tinha deixado de existir, só para que o ministro dos Negócios Estrangeiros coloque lá um "boy” qualquer do seu gabinete. Ou que seja colocada na cosmopolita Nova Iorque uma senhora qualquer, que trabalhou com um secretário de estado que ninguém conhece, e que para ali vai com a função de cônsul-geral (imagine-se o esforço...) só porque trabalha com um secretário de estado.

Haja seriedade e decência, que é coisa que sempre faltou a esta escumalha que nos tem governado. Haja rigor e ética, algo que esta corja de bandalhos nunca demonstrou ter. Criar nestas circunstâncias lugares para propiciar tachos a alguns (mais) cinzentos - o costume com esta corja de oportunistas que jogam em todos os tabuleiros refugiando-se numa independência da treta - é indecente, uma pouca-vergonha. Se estes pândegos que andaram anos a querer vender moralismos a torto e a direito - enganando os mais desatentos ou aqueles que “acreditam no Pai Natal” – fizessem escolhas para lugares de nomeação política e de confiança pessoal, enquanto perdurar o respetivo mandato, repito, nada a dizer. Seria uma escolha legal contra a qual ninguém tem o direito de investir. Cada um escolhe para determinadas funções políticas pessoas da sua confiança ou que lhe garantam o mínimo de conhecimento e de competência e ponto final. Mas neste caso não é isso que se passa. Estamos a falar de aldrabice, de colocação em postos de carreira diplomática de pessoas que fazem parte da atual estrutura governativa e da nomeação, para altos cargos da carreira pública, de indivíduos que legalmente deveriam ter passado pelo crivo do concurso público que a lei determina nestes casos concretos.

II - Parece que PSD e CDS na Madeira se vão deixar de conversas fiadas e em vez de se perderem numa coligação forçada vão concorrer sozinhos às legislativas de Outubro. Se nos Açores, onde ambos são oposição (o que facilitaria essa opção política), a coligação não se confirmou devido a todo um passado político que não se atira ao lixo de um dia para outro, o que dizer na Madeira onde um é poder e outro é oposição, por muitos namoriscos existentes entre eles? Historicamente PSD e CDS andaram estes anos todos de candeias às avessas. Como é que, de um momento para outro, tudo isso era esquecido em nome de uma coligação que ninguém sabe ainda ao certo se será uma mais-valia ou não? Os próximos meses serão decisivos porque ficaremos a conhecer em tempo útil tudo o que nos tem sido escondido nos últimos tempos quanto a medidas penosas para todos que já foram negociadas mas têm sido mantidas em segredo. Medidas que voltarão a ser tomadas depois das eleições, caso PSD e CDS sejam os mais votados. No fundo repetindo-se a pouca-vergonha de 2011, quando o PSD ganhou eleições a reboque de promessas, de demagogia, de mentira e da aldrabice para depois concretizar uma coligação com a direita (CDS) destinada a  viabilizar uma série de medidas que Passos sempre negou na campanha eleitoral que alguma vez fossem tomadas. Uma patifaria vergonhosa muito à imagem de gente sem rigor, sem princípios e sem valores de verdade e seriedade que por aí tem andado estes quatro anos (LFM)

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