sábado, fevereiro 28, 2015

Humor de Henrique Monteiro: Precioso segredo de justiça

fonte: Henricartoon

Gaza, seis meses después de la guerra: Deus existe mesmo?

fonte: El Pais

Casal a fazer sexo em campo de futebol era afinal publicidade do clube

O vídeo, que mostra um homem e uma mulher a andarem pela rua junto ao estádio do Charlton Athletic antes de verem uma entrada e se dirigirem ao meio do campo, é obra do departamento de marketing do clube. "Depois de uma investigação interna, podemos confirmar que a filmagem foi tirada de um TRABALHO que está a ser produzido pelo Departamento de Marketing do Charlton Athletic Football Club como parte de uma iniciativa para promover o aluguer do campo durante o mês de maio", afirma um porta-voz.  As imagens que circularam quinta-feira na internet eram, assim, apenas parte de um anúncio (na íntegra, em cima), que termina com os holofotes do estádio a acenderem-se de repente e a iluminar o casal, a ter relações sexuais, enquanto uma voz-off publicita: "Gostaria de marcar pontos no The Valley [o nome do estádio] em maio? Contacte a equipa de vendas agora e reserve o campo para a sua equipa". O porta-voz explica ainda que o vídeo publictário foi finalizado mais depressa para "esclarecer "qualquer confusão provocada" pelas imagens parciais. O vídeo inicial apareceu quarta-feira no VINE, com a legenda "alguém entrou no The Valley e fez isto no meio campo" e tornou-se viral rapidamente (Visão)


Anulações de subsídio de desemprego no nível mais baixo desde 2008

"Os centros de emprego estão a anular cada vez menos inscrições de desempregados que não cumprem os deveres previstos na lei. Em 2014 registou-se o número mais baixo de anulações, com 5548 pessoas a perderem o direito ao subsídio de desemprego, menos 17% do que em 2013. Consequentemente, as reclamações que chegaram à Comissão de Recursos do Instituto de Enmprego e Formação Profissional (IEFP) também diminuíram 18%. Os dados constam do relatório de actividades daquela comissão, aprovado na quinta-feira pelo conselho de administração do IEFP, e confirmam uma tendência que se verifica desde 2011, altura em que o desemprego começou a subir para níveis históricos. A queda é mais expressiva do que a verificada em 2013 e aponta para o número mais baixo de anulações nos sete anos analisados no relatório e que correspondem ao tempo de vida da comissão coordenada por Cristina Rodrigues. Uma das explicações para estes resultados que o relatório avança é o método usado até ao ano passado para convocar os desempregados para se apresentarem nos centros de emprego. Desde meados de 2012, as convocatórias passaram a seguir em correio não registado e a exigir-se uma segunda convocatória do desempregado, essa já em correio registado, para então se proceder à anulação da inscrição e do subsídio.  Ou seja, os centros de emprego poderiam não emitir essa segunda via. Segundo Cristina Rodrigues, essa situação poderá ser colmatada com o processo de notificação automática e centralizada em funcionamento desde o início de 2015. “É previsível um aumento significativo das anulações da inscrição de desempregados subsidiados”, antecipa a coordenadora central da Comissão de Recursos" (Público)

Humor de Henrique Monteiro: Lugares marcados

fonte: Henricartoon

Humor de Henrique Monteiro: o castigho do leão

fonte: Henricartoon

Governo grego vai reabrir televisão pública encerrada em 2013

Escreve o Público que "o Governo grego quer reabrir a radiotelevisão pública ERT, encerrada em 2013 pelo anterior executivo, e vai apresentar no Parlamento um projecto de lei com esse objectivo. Está previsto “o regresso ao TRABALHO dos despedidos” que o desejem. Fonte governamental citada pela AFP disse que a reabertura não terá efeitos negativos para as finanças públicas. Nikos Pappas, ministro de Estado, afirmou que o Governo “não exclui o aumento da taxa” para financiar a ERT.O encerramento da estação, em Junho de 2013, ordenado pelo então primeiro-ministro conservador, Antonis Samaras, foi justificado com a austeridade. O chefe do Governo na altura argumentou com os custos da empresa, que considerou excessivos para uma Grécia em crise. A interrupção de emissões provocou uma crise no Governo, com os socialistas do Pasok e o partido de esquerda-democrática Dimar – que na altura também integrava a coligação liderada pela Nova Democracia – a demarcarem-se da decisão. O caso ERT teve repercussão internacional e motivou manifestações apoiadas pelo Syriza, que hoje lidera o Governo, e uma greve geral contra uma decisão comparada por sindicatos e oposição a um “golpe de Estado”. Durante meses as instalações foram ocupadas por trabalhadores que se opunham ao encerramento. A União Europeia de Radiodifusão condenou o fecho.
A estação foi substituída provisoriamente pela DT. Mais tarde, deu lugar à Nerit, com apenas 500 funcionários, menos de um quinto do pessoal da ERT e uma programação reduzida.
Na campanha, Tsipras comprometeu-se a reabrir a antiga estação. “O Governo não se limita a regressar ao antigo quadro [de funcionamento]; vai fazer face aos problemas, mas sem iniciativas inadmissíveis do anterior Governo, como a de impor um ecrã negro”, disse esta sexta-feira a fonte governamental. Entre as críticas que eram feitas ao operador público antes do encerramento estavam o desperdício e o elevado número de funcionários. Muitos reformaram-se e uma parte foi despedida. Dezenas de jornalistas foram contratados pela Nerit, que foi acusada de condescendência para com o anterior Governo conservador-socialista.  O regresso da ERT foi anunciado no dia em que os deputados alemães aprovaram, por esmagadora maioria, a extensão do programa de assistência financeira à Grécia. Dos 587 que votaram, 542 disseram “sim” ao prolongamento do acordo por quatro meses; 32 votaram contra e 13 em branco. A votação não surpreende, porque todos os partidos parlamentares estavam a favor do extensão. Os votos contra e em branco vieram da área política da chanceler, Angela Merkel. O ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, pedira o voto favorável, embora tivesse admitido que não seria uma posição fácil para muitos deputados. “Peça a todos para não desaprovarem, porque causaríamos danos muito grandes ao nosso povo e ao nosso futuro”, disse, segundo a AFP. O Governo de Berlim precisava da aprovação do Parlamento para dar o seu acordo à extensão do programa em vigor deste 2012 e que agora termina a 30 de Junho. “Nós, alemães, devemos fazer tudo para que a Europa permaneça unida”, disse Schäuble, num discurso em tom grave. O acordo “não representa mais milhares de milhões para a Grécia, não implica quaisquer mudanças no programa existente”, declarou também. A negociação entre a Grécia e os credores foi desbloqueada há uma semana. Como contrapartida à extensão do acordo, o Governo de Tsipras fez chegar na terça-feira a Bruxelas uma lista de reformas. É um documento deliberadamente vago, como reconheceu esta sexta-feira o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis. Os compromissos gregos não incluem prazos, nem metas quantificadas, porque foi essa a recomendação que lhe terá sido feita pelos homólogos europeus. Numa entrevista à Antenna TV, Varoufakis disse que foi aconselhado a não mencionar números para evitar eventuais objecções dos parlamentos dos países da zona euro"

Blogger morto à machadada na capital do Bangladesh

Li no Publico quer "um conhecido blogger norte-americano de origem bangladeshiana foi assassinado a golpes de machado em Daca, a capital do Bangladesh. Os atacantes seguiram Avijit Roy e a mulher, Rafida Ahmed, depois de uma visita do casal a uma feira do livro na Universidade de Daca. Ahmed, que também é blogger, está ferida. “Ele morreu quando estava a ser transportado para o hospital. Sofreu ferimentos fatais na cabeça. A sua mulher está gravemente ferida, perdeu um dedo”, disse o director da polícia local, Sirajul Islam. O casal, emboscado pelos atacantes, foi encontrado num passeio com os corpos cobertos de sangue. A polícia recuperou dois machados usados: “Vários atacantes participaram e pelo menos dois atingiram-nos directamente.” Autor de uma dezena de livros, Roy fundou um blogue muito popular em bengali chamado Mukto-mona (Livre Pensamento). Segundo o seu pai, Ajoy Roy, tinha recebido inúmeros emails e mensagens “ameaçadoras” nas redes sociais por parte de extremistas. Roy, com 42 anos, era “um verdadeiro aliado, um defensor corajoso e eloquente da razão, da ciência, da liberdade de expressão, num país onde estes valores são alvo de ataques violentos”, declarou num comunicado o Center for Inquiry, uma associação de promoção do  livre pensamento nos Estados Unidos. Imran H. Sarker, presidente da associação de bloggers do Bangladesh, descreveu um ataque “escandaloso” que o deixa “extremamente inquieto pela segurança dos escritores” no seu país. Pinaki Bhattacharya, blogger e amigo de Roy, lembrou que um distribuidor de livros online foi ameaçado por vender as obras do autor assassinado. “No Bangladesh, o alvo mais fácil é um ateu. Um ateu pode ser atacado e assassinado”, escreveu Bhattacharya no Facebook. Em 2013, outro blogger ateu crítico do fanatismo religioso, Ahmed Rajib Haider, foi morto à machadada por um grupo islamista desconhecido. Na altura, houve várias manifestações nacionais de protesto, ao mesmo tempo que diferentes grupos islamistas ameaçavam bloggers e activistas acusados de blasfémia, pedindo que fossem executados. O Governo de Sheikh Hasina, primeira-ministra, intensificou as medidas para proteger alguns dos ameaçados, mas prendeu outros e bloqueou sites e blogues. Oficialmente, o Bangladesh, país onde 90% dos 160 milhões de habitantes são muçulmanos, tem um governo secular"

Opinião: "Acabou-se o “conto de crianças”

"Em poucos dias desmoronou-se aquilo a que Passos Coelho chamou, com toda a propriedade, “um conto de crianças”. Não sei porquê, a expressão causou por aí muita indignação e suscitou manifestações de um pudor institucional inusitado: em suma, não era digna de um Estadista. A deslocada sobranceria de Passos não oferecia mistério: era apenas um torpe subterfúgio para ofuscar a cobardia do próprio governo, que como um servo obediente e agradecido sacrificara desnecessariamente Portugal ao diktat da pérfida Alemanha. O Syrisa daria ao Mundo o exemplo de como se arrasa um “tigre de papel”. Passos que olhasse e cobrisse a cara de vergonha.
Durante duas semanas, nós todos olhámos, lemos, ouvimos. Ao que assistimos foi a um espectáculo de arrogância provocadora, seguido, no dia 20 de Fevereiro, de uma sumária capitulação. Ninguém a resumiu melhor do que Manolis Glezos, o lendário patriarca do Syrisa: “Rebaptizar a troika de ‘instituições’, o memorando de entendimento de ‘acordo’ e os credores de ‘parceiros’, em nada altera a situação prévia, tal como trocando o nome de carne pelo de peixe.” O venerando eurodeputado pelo Syrisa declarou que as concessões já feitas tinham passado além dos limites, pois que nem se obtivera a “remoção da austeridade”, nem “a abolição da troika e respectivas consequências”. Dito isto, pediu desculpa ao povo grego por ter contribuído para a sua “ilusão”.
Não, Manolis Glezos não se tornou o meu herói; nem me parece que ele acredite em “contos de criança”, muito pelo contrário. Ele acredita (ou acreditava), isso sim, na possibilidade de uma verdadeira revolução: mandar o euro às urtigas e a Europa às favas, voltar ao dracma e imprimir notas a rodos, desprezar a inflação e voltar ao proteccionismo, nacionalizar a Banca, a construção naval e os sectores estratégicos da economia que por lá existam, subsidiar preços, multiplicar e aumentar subsídios, fazer do Estado uma fonte inesgotável de emprego. Enquanto as rotativas do Banco Central Grego não se cansassem, nada nem ninguém poria limites ao comprovado génio grego para de manhã não se interrogar sobre o que será à noite. Sair da NATO viria na sequência lógica, necessária e desejada da opção revolucionária. O Mundo é grande e há nele um quadrante asiático com potências desejosas de apadrinhar uma mudança anti-europeia da geopolítica grega. Tudo isto acabaria em catástrofe? Claro que sim, mas ao menos seria coerente com a apregoada vontade de recuperar a soberania plena.
O problema do Syrisa, e da dupla Tsipras/Varoufakis em particular, é que a maioria dos que votaram neles não são revolucionários. Mais de 70% dos gregos pronunciaram-se repetidamente a favor da permanência no Euro, que lhes proporcionou desafogo, benesses e lazer como nunca tinham gozado. Acreditaram no “conto de crianças” com que Tsipras deliberadamente os enganou a fim de conquistar o poder. Fê-lo convencido, talvez, de que na época pós-modernista (e, portanto, pós- marxista), quando a classe operária ou desapareceu ou se aburguesou e o consumismo se converteu na única paixão universal, a revolução teria de ser feita à revelia do “povo”, cuja única e provisória utilidade reside nos votos que concede a troco de promessas falsas e até delirantes.
À esquerda e à direita, o populismo, que até já tem o seu maître à penser, um obscuro “filósofo” argentino de seu nome Ernesto Laclau (falecido no ano passado), consagrou-se como instrumento legítimo de revoluções diferentes, mas revoluções à mesma. Marine Le Pen e Alexis Tsipras comungam da mesma ética (ou falta dela), e servem-se dos mesmos meios para alcançar diferentes fins: o recurso descarado ao populismo, à mentira descarnada, à exploração dos instintos mais primitivos das massas para atraírem os votos que lhes entreguem o poder. Ela para restaurar a desmedida grandeza de uma França para os franceses brancos e cristãos. Ele para destruir o capitalismo e vencer a globalização.
Varoufakis, depois das provocações e fanfarronadas iniciais, percebeu que se defrontava com outros 17 países que nem se impressionaram com a sua premeditada informalidade, nem se amedrontaram com a sua variegada chantagem, nem estavam dispostos a contemporizar com as extravagantes e exorbitantes exigências de Atenas – um absurdo a que só a perspectiva revolucionária de Manolis Glezos poderia conferir racionalidade e propósito. As exigências mais lunáticas caíram ainda antes do início das negociações, como simplesmente “não pagar” (lembram-se ?), ou no mínimo mais um perdão parcial da dívida, a pura e simples eliminação da troika, o encerramento do programa de resgate em curso sem prévia avaliação e aprovação pelas “Instituições”, e o incondicional “empréstimo-ponte”, para aliviar o garrote financeiro e dar tempo a que o governo se orientasse.
À segunda reunião do Eurogrupo, no dia 20, tudo caiu por terra, permitindo que Schäuble tranquilizasse por carta o Bundestag: “A Grécia compromete-se a colaborar com a União Europeia, com o Banco Central Europeu e com o FMI”, nomeadamente “nas reformas estruturais que promovam o crescimento económico e a criação de emprego.” Mais: a Grécia “Não poderá implementar unilateralmente qualquer medida que ponha em risco as metas orçamentais definidas, a estabilidade financeira do país e a recuperação económica”.
Que remédio senão ceder: Varoufakis e Tsipras sabiam que tinham prometido dinheiro sem austeridade. Como podiam enfrentar o seu eleitorado levando-lhe, em alternativa, uma revolução que este não lhes encomendara e não queria ?! Nesta emergência, para engodo dos incautos mudaram os nomes e deixaram as coisas. A astúcia é grosseira, mas talvez possa ser engolida pela credulidade do eleitorado que os elegeu. Mais difícil está já a ser fazê-la engolir aos deputados e ao partido, e, sobretudo, aos que levaram a sério as promessas do Syrisa, tomando-as pelo começo da revolução.
Sobra a triste figura que nisto tudo fez, e continua a fazer, a esquerda radical portuguesa. Com o seu habitual coração de ouro, acusou o governo e a direita de falta de solidariedade para com a Grécia. Mas que razões tínhamos nós para ser “solidários” em vez de simplesmente colaborantes, como fomos, numa solução consensual que viesse a encontrar-se ? Portugal penou o que tinha a penar, e o primeiro-ministro tem a coragem de regularmente lembrar ao País que a austeridade, embora já aliviada, não acabou nem acabará tão cedo, apesar de o País ter perpetrado uma “saída limpa” do resgate e, se possível mais importante, já ter invertido a “espiral recessiva” a que até o Presidente da República nos julgou condenados.
O que fez a Grécia que justificasse o tratamento especial que exigia ? Quanto à solidariedade que lhe devemos, estamos conversados: em Março de 1985, a Grécia pura e simplesmente vetou a adesão de Portugal à CEE, com receio da concorrência que o nosso País lhe pudesse fazer na repartição dos dinheiros europeus. E apenas retirou o veto quando obteve de Bruxelas um financiamento adicional ao abrigo dos “Programas Integrados do Mediterrâneo”, como aliás já reclamara desde o ano anterior. Ou seja: Bruxelas teve, literalmente, de comprar à Grécia a adesão de Portugal !
Mas isto são rancores meus. A esquerda radical, com a vasta generosidade e elevação de espírito que a caracterizam, aclamou, como tanto lhe convinha, a vitória do Syrisa, em que via o prenúncio do seu próprio sucesso. No oferecimento de fraterna solidariedade, é justo destacar os esforços de Rui Tavares, ex-eurodeputado do Bloco, que rompeu com o partido quando percebeu que, amarrado ao extremismo, jamais alguém lhe daria ao menos uma secretaria de Estado. O líder do novíssimo “Partido Livre” não apenas se tem dedicado a uma incansável exegese, letra a letra, dos documentos enviados por Atenas a Bruxelas, em que a cada passo descobre preciosas subtilezas e salutares ambiguidades que escapam ao comum dos mortais, como exortou os “Caros concidadãos gregos: aguentem firmes, que vêm reforços a caminho […] já no futuro próximo.” (Público-on-line, 19 Fevº) Vá-se lá saber por quem ou o quê se toma.
O primeiro acto da crise “euro-grega” ainda está em curso. Com todo o espalhafato que montou, a Grécia só obteve de positivo o que Portugal alcançou sem quase se dar por isso: disponibilidade negocial quanto a metas orçamentais; alargamento dos prazos para o pagamento dos empréstimos; e o direito a sugerir propostas – dentro da “flexibilidade” pré-definida. Não menciono o socorro financeiro (com as condições ainda por aprovar pelas “Instituições”) para evitar uma bancarrota iminente porque Portugal não precisou disso. Em tudo o mais a Grécia está pior: será escrutinada pelas “Instituições” como nunca foi; voaram os depósitos bancários e as receitas fiscais diminuíram 40% só no mês de Janeiro; de positivo que era, o saldo orçamental primário passou a negativo; a solvabilidade do Estado nem a curto-médio prazo está garantida. De momento, duas das “Instituições”, o FMI e o BCE, olham com cepticismo para a lista de medidas vagas e não quantificadas que Varoufakis remeteu para Bruxelas. Apenas Bruxelas, onde Juncker verte agora lágrimas ridículas de amargura, mas que muito consolam os nossos radicais, as acha um “bom ponto de partida”. Se for alcançado um ponto de chegada, em Abril “o programa segue dentro de momentos”, de crise em crise até ao “Grexit” final" (texto de Maria de Fátima Bonifácio, Observador, com a devida vénia)

Opinião: "Para ser candidato presidencial é necessário ser comentador numa televisão?"

"Pode ser impressão minha, mas sinto uma estranha acalmia nas habitualmente revoltas águas da política nacional. As controvérsias chegam e vão com ainda mais leveza do que a espuma dos dias, sinto menos tolerância para com os discursos inflamados e tremendistas, maior previsibilidade nos debates parlamentares e aquela sensação estranha que até quem tem de arranjar todos os dias um tema para os fóruns radiofónicos ou televisivos anda a dar pinotes à imaginação.
Bem sei que a crise grega desviou as atenções para outras paragens – e desviou muito bem, pois uma parte do nosso destino jogou-se entre Bruxelas, Berlim e Atenas –, mas suspeito que há mais, que há sobretudo algum cansaço pela repetição de discursos políticos que parecem não se alterar mês atrás de mês. Até quando, no domingo à noite, uma parte do país se senta em frente da televisão para a homília do professor Marcelo, fá-lo com a sensação de déjà vu, de que até quase seria capaz de adivinhar o número de vezes em que falará de “erros de comunicação” ou de “falta de planeamento”. Mesmo folhetins que ainda há pouco apaixonavam a opinião pública, como o inquérito ao BES ou as visitas à prisão de Évora, parecem estar naquela fase das telenovelas onde se pode ficar uma semana sem ver nenhum episódio que não se perderá o fio à meada.
Como se tudo isto não fosse suficiente nem sequer aquele que foi apresentado como “o novo Messias”, António Costa, só tem conseguido distinguir-se pela sua habilidade, indiscutível, em evitar comprometer-se seja com o que for.
Ora como a Natureza tem horror ao vazio, a política tem horror ao silêncio e à calmaria. E se é necessário agitar as águas, então fale-se de presidenciais. Mesmo quando faz muito pouco sentido aquilo que se diz e aquilo que se propõe.
Tal como há dez anos, quando todos os astros se conjugaram para um passeio triunfal de Cavaco Silva, desta vez os cálculos políticos também pareciam alinhados: seria a vez de António Guterres. Só que, parece, o próprio não tem esses planos, o que devo dizer que não me surpreende: a missão do próximo Presidente adivinha-se difícil, espinhosa e, porventura, pouco recompensadora.
Recapitulemos um pouco. O primeiro Presidente eleito democraticamente, Ramalho Eanes, não deixou de ter um importante papel, com altos e baixos, mais a gosto ou mais a contragosto, na normalização da vida política e na saída dos militares da vida política. O segundo Presidente, Mário Soares, foi muito importante na pacificação do regime e a habituar-nos a que os vários poderes se devem equilibrar e vigiar. O terceiro Presidente, Jorge Sampaio, parecia destinado a um mandato tranquilo, mas acabou por presidir ao período em que Portugal entrou no “pântano” e, sendo um institucionalista, acabou a dissolver um Parlamento onde existia uma maioria absoluta. O quarto Presidente, Cavaco Silva, provou que era possível chegar à Presidência vindo da direita política e teve de enfrentar o período da maior crise económica e de mais desconfiança nas instituições. Mesmo assim terá sido o que cumpriu mais à letra os limites das suas competências, mesmo nas críticas de alguns discursos e no desconforto de alguns vetos.
Como será o quinto Presidente? O desafio não é pequeno, pois não devemos ter ilusões. O país não vai sair da crise por milagre, antes vai continuar por muitos anos a ter de gerir com imenso cuidado e parcimónia as suas contas públicas – para não dizer a gerir de forma austera. Se há sinais de erosão dos grandes partidos que foram, até agora, a espinha dorsal do regime democrático, não há sinais de que venha a ser fácil formar governos maioritários em tempos em que eles podem ser mais necessários do que nunca. Tudo isto sem esquecer que os problemas europeus estão longe de estar ultrapassados e, aqui ao lado, a Espanha pode viver uma crise constitucional. É, mesmo para o Chefe de Estado de um regime semi-presidencialista, um caderno de encargos pesado.
Sendo os tempos difíceis, não deixa de ser surpreendente a forma como temos vindo a assistir a uma espécie de jogo do gato e do rato entre diferentes proto-candidatos, a maior parte dos quais (a totalidade?) não nos inspira um mínimo de confiança.
Excluindo Guterres, quase todos os nomes que vão surgindo têm apenas uma coisa em comum: são comentadores televisivos. Marcelo, claro está, o príncipe da especialidade. Mas também Santana Lopes. Ou a eterna dona Constança, também conhecida por António Vitorino. E agora, saída da cartola de um socialista, Manuela Ferreira Leite. Não tarda estão a falar-nos de Bagão Félix ou de um repetente, Francisco Louçã. O mais paradoxal é que sobram poucos nomes na roleta das especulações para além destes (Rui Rio? Sampaio da Nóvoa? Carvalho da Silva?).
Não nos enganemos: há uma enorme perversidade neste processo. E preocupantes sinais de menoridade política.
A primeira perversidade é anterior às especulações presidenciais, pois deriva directamente deste hábito nacional, sem paralelo no mundo civilizado, de eleger como comentadores televisivos políticos na reserva, na reforma ou apenas numa qualquer travessia do deserto entre dois lugares públicos. Os dados que vou citar são de 2013 e não sei se existem alguns mais recentes, mas nessa altura havia nos vários canais de televisão 69 horas de comentário político por semana, quase dez horas por dia em média – não creio que esse número seja muito diferente hoje. Mas o mais relevante é que dois terços dos comentadores residentes, os com programas semanais, eram políticos – no activo ou de pousio. Mais: um décimo dos deputados também passam regularmente por programas de comentário ou de “debate”, essas espécies de paródia em miniatura da vida parlamentar que muitas televisões gostam de reproduzir em estúdio.
Isto não é, nem nunca foi, jornalismo. É mais preguiça. É mais a procura da facilidade de encontrar sempre nesses comentários um soundbite que dê para reproduzir nos noticiários que vêm a seguir. Não é, ou quase nunca é, um espaço de esclarecimento ou de debate descomprometido, independente de agendas pessoais ou partidárias.
Mas isto também não é política, ou pelo menos não é política séria. Umas vezes é espectáculo, outras um palco de ambições e vaidades pessoais, nalguns casos apenas uma ocasião para ajustar contas. Raras vezes há ali distanciamento ou independência, quase sempre há apenas o calculismo de quem, tendo sido político, político continua a ser, isto é, alguém que se preocupa mais com a sua popularidade do que com a sua sinceridade.
Quando o nosso universo de “presidenciáveis”, sobretudo num momento tão crítico como este, está quase reduzido a este pequeno mundo dos que “existem porque vão à televisão” é porque alguma coisa vai mal. E se sabemos que há sempre uma parte de jogo e encenação (e dissimulação) na preparação de uma candidatura presidencial, a pobreza dos cenários já conhecidos é deprimente. No mínimo.
Nos partidos, compreensivelmente preocupados com as eleições legislativas, qualquer ousadia parece proibida, o tempo é o do mais frio calculismo, uma forma de fazer política que parece estar a conhecer novas e insuspeitas dimensões com o estilo António Costa. O que deixa, infelizmente, espaço disponível para os mais audazes, para não lhes chamar apenas aventureiros, como é o caso de Santana Lopes. Se ele está no palco, com tudo o que sabemos do seu passado político, é porque, mais uma vez, a natureza e a política têm horror ao vazio, e há quem saiba tirar proveito disso" (texto de  José Manuel Fernandes, Observador, com a devida vénia)

Medo: a vida no "Charlie Hebdo", que agora é um jornal rico, já não é a mesma

Escreve o Expresso, num texto do jornalista Daniel Ribeiro, que "o "Charlie Hebdo" regressou esta quarta-feira à normalidade das edições semanais. Mas a vida no coração do jornal satírico francês mudou depois do atentado. "Charlie" ficou assombrado pelo terror, há muito medo e debate sobre o futuro. O “Charlie Hebdo” regressou esta quarta-feira às edições semanais, como antigamente. Trata-se de uma tentativa de regresso à normalidade. Mas a normalidade é aparente porque nada mais será como dantes. Têm trabalhado, sempre sob tensão extrema, num autêntico bunker. Provisoriamente instalados na sede do diário "Libération", numa pequena rua a dois passos da Praça da República, em Paris, os trabalhadores do "Charlie Hebdo" estão protegidos em permanência pela polícia. Para lá entrar, mesmo que seja apenas para ir à redação do "Libération", toda a gente tem de ter encontro previamente marcado e é, mesmo assim, controlada pelos agentes da polícia. Será igualmente assim quando brevemente mudarem para a nova sede do semanário, que a Câmara do bairro número 13 (na zona da Praça de Itália) lhes propôs.
Todos os trabalhadores do "Charlie Hebdo" vivem um dia a dia de medo. Os sobreviventes do ataque terrorista de janeiro (12 mortos, entre eles cinco grandes nomes de referência da caricatura francesa) reconhecem-no e alguns dizem dormir mal. Os pesadelos constantes perturbam-nos. Devido ao receio de novos atentados, um desenhador pediu para trabalhar a partir de casa, alguns funcionários até terão pedido para sair do jornal. Três das vítimas que ficaram gravemente feridas ainda estão internadas num hospital. Mas o medo - por exemplo, o atual diretor, Riss, baleado com gravidade numa omoplata durante o ataque terrorista, vive sob a ameaça de uma fatwa - não é o único problema. A redação foi dizimada, faltam desenhadores e há também a questão de agora serem uma empresa rica e próspera. Estavam falidos antes do atentado levado a cabo pelos irmãos Kouachi, tinham poucos leitores e agora têm mais de dez milhões de euros e 200 mil novos assinantes. Venderam cerca de oito milhões de exemplares do histórico "número dos sobreviventes", o primeiro depois da tragédia. Esta quarta-feira, a edição que retomou a periodicidade semanal teve uma tiragem de 2,5 milhões.
Além do dinheiro das vendas, o jornal recebeu cerca de 2,5 milhões de euros em donativos, a maior parte oferecido por particulares (1,75 milhões). A Google, por exemplo, deu-lhes 200 mil euros."É um novo pesadelo, todo este dinheiro pode matar-nos", diz o médico Patrick Pelloux, um dos cronistas. Na redação há debates e divergências sobre a forma de gerir o dinheiro, sobre o tipo de empresa que o deverá dirigir. Uns propõem a criação de uma cooperativa, outros que as partes que as vítimas mortais tinham na sociedade sejam distribuídas pelos nomes mais conhecidos. Por exemplo, a Luz, cujos desenhos fazem habitualmente as primeiras páginas do "Charlie Hebdo", foi proposto que ficasse com os 40% que Charb, antigo diretor assassinado, detinha na sociedade. O famoso caricaturista recusou - é um dos que defende a criação de uma cooperativa. A maioria pede transparência na gestão, mas tudo ainda é muito vago. As polémicas ainda não estão completamente na praça pública, mas existem. É por exemplo criticada a decisão da nova direção de contratar uma agência de comunicação para lhes gerir a imagem. Curiosamente, trata-se da mesma agência que trabalha para Dominique Strauss-Kahn, que tem sido um dos alvos privilegiados da sátira do "Charlie". "Acho normal que tivéssemos contratado uma agência de comunicação, precisamos de gente profissional porque nós não temos tempo para tudo", explica Riss.
Redação perdeu o espírito brincalhão dominante
Transformado em símbolo mundial da liberdade de imprensa, o "Charlie Hebdo" regressou a partir desta quarta-feira às edições semanais, como antigamente. Trata-se de uma tentativa de regresso à normalidade. Mas a normalidade é aparente porque nada mais será como dantes. As reuniões da redação já não são risonhas e bem-humoradas, como eram no passado. Os assassinos mataram a um tempo pessoas e o espírito brincalhão e despreocupado que dominava o jornal. O traumatismo - muitos viram os mortos ao lado deles, os feridos a gritar, todos num banho de sangue - sente-se logo à entrada, na sede provisória. O medo e o terror existem e todos os principais nomes vivem um dia a dia de paranoia. Tentam sorrir e brincar, mas naturalmente não conseguem fazê-lo como acontecia antes do horror vivido no dia 7 de janeiro. Mesmo a sua vivência privada mudou radicalmente. A vida no interior de "Charlie Hebdo" também mudou. Completamente"

Opinião: "Made in Costa"

"Lembram-se quando António Costa dizia que António José Seguro só divergia do PSD e do Governo de Passos Coelho na "dose e no ritmo" da austeridade?
Pois bem, o que percebemos agora é que para António Costa a "dose" e o "ritmo" impostos pelo Governo não só permitiram "enfrentar" como "vencer" a crise. É essa a conclusão a que se chega depois de o ouvir nas comemorações do ano novo chinês:
"Como nós dizemos em Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses, os investidores disseram presente, vieram e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que estava há 4 anos. E queria agradecer à China todo o apoio que nos deu e que certamente não esqueceremos e que é um sinal do muito que ainda temos para desenvolver nas relações entre todos nós" (fim de citação).
O PS argumenta que há ocasiões e ocasiões para fazer oposição. Que aquele não era o cenário, frente a uma plateia de estrangeiros, para criticar.
Estranho, no fim de semana passado, António Costa esteve em Espanha (também frente a estrangeiros) e não poupou nos ataques.  E dias antes tinha estado em Bruxelas onde fez o mesmo.
No discurso do socialista (cujo vídeo foi habilmente colocado nas redes pelo centrista Nuno Melo) os chineses não só fizeram muito por nós, como até merecem um inesquecível agradecimento. Quer isto dizer que com Costa em São Bento haverá mais chineses em novas privatizações? A sua estratégia também será a de vender as empresas nacionais?
Nas palavras de António Costa, Portugal está melhor do que há quatro anos. Mas afinal em que ficamos? No país que venceu a crise como agora declara, ou nas críticas à governação da troika de Passos e Portas?
Naquele palco, frente aos chineses, quem falava era António Costa, mas sentindo-se já primeiro-ministro. Vestiu o fato para pedir aos homens do capital que não se esqueçam dele quando chegar ao poder.
Só que o problema é mesmo esse: a chegada ao poder. No PS já se fala em desilusão, e de facto o que Costa tem mostrado é que não só não tem conseguido distanciar-se de Seguro, como a política que propõe não será, nem pode ser, muito diferente da seguida pelo atual Governo. O caminho é demasiado estreito. E há uma imensa dívida para pagar.
Se fecharem os olhos e ouvirem a declaração, não encontrarão grandes diferenças em relação aos discursos que Passos e Portas andam há meses a repetir. Só faltou mesmo dizer que Portugal não é a Grécia. Mas Costa chegará lá" (texto do jornalista do Expresso, Bernardo Ferrão, com a devida vénia)

Depois das presidentas, as pilotas. De Fórmula 1

Escreve a jornalista do Expresso Mariana Cabral que "o chefe do departamento de aerodinâmica da Williams, Jason Somerville, tem um filho e uma filha, com quem costuma ver Fórmula 1 sempre que pode. Enquanto o filho vê os carros e ouve atentamente tudo o que o pai diz, a filha brinca no iPad, desinteressadamente. Ou melhor, brincava. Até ver uma mulher entrar num monolugar. "Aquela é a Susie? Nunca tinha visto uma rapariga na Fórmula 1, pensava que era proibido", espantou-se a filha. "Agora ela vê todas as corridas de Fórmula 1 com o pai, porque na cabeça dela já não é um desporto só para rapazes." A história, contada por Susie Wolff à BBC no ano passado, quando a escocesa se estreou como piloto de testes da Williams, mostra que a Fórmula 1 está a deixar de ser território exclusivamente masculino. Não só com a ajuda da Williams, mas da Lotus, que anunciou esta quinta-feira que a espanhola Carmen Jordá é a nova piloto de testes da equipa para a época que se avizinha. Aos 26 anos, Jordá, que passou pela Fórmula 3 espanhola e estava na GP3 Series, onde nunca se destacou por aí além em termos de resultados, cumpre um sonho que tinha desde os 10 anos, quando se estreou nos karts. A filha do ex-piloto espanhol José Miguel Jordá, que fez trabalhos de modelo e estudou marketing (enquanto corria profissionalmente, desde 2001), vai testar o carro E23 da Lotus, que será guiado oficialmente pelos pilotos Romain Grosjean e Pastor Maldonado. Carmen Jordá é a segunda mulher esta época na Fórmula 1 (Susie Wolff continua a ser piloto de testes da Williams) e entra para a história junto dos (poucos) nomes do sexo feminino que já estiveram oficialmente num monolugar: Maria-Teresa de Filippis, Lella Lombardi, Divina Galica, Desire Wilson e Giovanna Amati.  A 13 março, quando a nova época começar, com o Grande Prémio da Austrália, a filha de Jason Somerville já tem mais uma razão para ver Fórmula 1. Chama-se Carmen Jordá"

Tsipras acusa Espanha e Portugal de liderarem "eixo de poder" contra Atenas

Li no DN de Lisboa que "o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, acusa Madrid e Lisboa de liderarem conspiração conservadora para derrubar o seu governo anti-austeridade. Num discurso para os membros do Syriza, Tsipras acusou Espanha e Portugal de liderar uma conspiração conservadora para derrubar o seu governo, dizendo que os executivos dos dois países temem as suas próprias forças radicais antes das eleições deste ano. "Encontramos a oposição de um eixo de poder, liderado pelos governos de Espanha e Portugal, que por óbvias razões políticas tentaram levar as negociações para o abismo", afirmou Tsipras, citado pela Reuters. O primeiro-ministro também rejeitou as críticas de que Atenas tinha encenado um recuo para garantir a extensão do resgate da zona euro, argumentando que a raiva entre os conservadores gregos mostra que o seu governo conseguiu algumas concessões"

Semestre Europeu de 2015: decisões da Comissão Europeia


“A Comissão Europeia enviou hoje um sinal forte aos Estados-Membros no sentido de levarem a cabo as reformas estruturais e de prosseguirem a consolidação das finanças públicas. A decisão insere-se na sequência da abordagem que foi definida em novembro pela nova Comissão e está no cerne da Análise Anual do Crescimento de 2015: privilegiar o investimento, as reformas estruturais e a responsabilidade orçamental.
Eis os pormenores da decisão do colégio:
Dos 16 países que em novembro haviam sido identificados como apresentando desequilíbrios macroeconómicos, a Comissão reforçou o procedimento em relação a três países: França (fase 5), Alemanha (fase 3) e Bulgária (fase 5). Em relação a dois países, a Comissão deu início ao procedimento relativo aos desequilíbrios macroeconómicos (PDM): Portugal e Roménia; no que respeita à Eslovénia, a Comissão decidiu suavizar o procedimento. Os restantes dez países não sofrem qualquer alteração da sua situação (ver anexo).
No que respeita aos esforços orçamentais, a Comissão recomenda que não seja iniciado qualquer procedimento por défice excessivo em relação à Bélgica, à Itália e à Finlândia, embora os esforços destes países não estejam em consonância com o valor de referência para a dívida. Isto deve-se ao facto de a Comissão ter em conta fatores pertinentes ao abrigo do artigo 126.º, n.º 3, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.
A Comissão recomendou ainda que França possa ter até 2017 para corrigir o seu défice excessivo. A recomendação fixa um calendário rigoroso para a trajetória de ajustamento orçamental, que passará a ser avaliada regularmente a partir de maio. Esta medida visa proporcionar a França tempo suficiente para aplicar reformas estruturais ambiciosas.
Segundo o Vice-Presidente do Euro e Diálogo Social, Valdis Dombrovskis: «o pacote hoje debatido pela Comissão constitui a próxima etapa no processo do Semestre Europeu, após a adoção da Análise Anual do Crescimento em novembro último. Obviamente que as nossas decisões têm em conta a situação económica a nível nacional e mundial, bem como a intensa interação mantida nas últimas semanas com Bélgica, França e Itália sobre os respetivos planos de reforma orçamental e estrutural».
Segundo o Comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Fiscalidade e União Aduaneira,Pierre Moscovici: «este é um conjunto de decisões importante e equilibrado que reflete fielmente a atual situação económica. A Comissão ressalta a importância tanto das reformas estruturais como do respeito das nossas regras orçamentais. A maior parte dos Estados-Membros tem envidado os esforços necessários. Outros precisam de acelerar e de intensificar os esforços de reforma, bem como de reduzir os respetivos défices e dívidas. Continuaremos a incentivar os esforços nesse sentido e, para o efeito, utilizaremos todos os instrumentos legais à nossa disposição que se mostrem necessários».
Próximas etapas
A Comissão apresentou as referidas recomendações ao Conselho. Estas deverão ser debatidas em março na reunião do Conselho dos Assuntos Económicos e Financeiros (ECOFIN).
Em março, a Comissão organizará uma nova ronda de reuniões bilaterais com os Estados-Membros para debater os relatórios por país. Até meados de abril, os Estados‑Membros devem apresentar os respetivos programas nacionais de reformas e programas de estabilidade ou convergência. Com base em todos estes documentos, a Comissão apresentará, em maio, um novo conjunto de recomendações específicas por país para 2015-2016, centrado nas principais prioridades a resolver.
Contexto
O pacote de supervisão orçamental hoje apresentado surge na sequência da adoção da Análise Anual do Crescimento, em novembro último, e fornece a base analítica para a adoção, em maio, das recomendações específicas por país. É a primeira vez que a Comissão apresenta o pacote de supervisão económica neste formato e publica relatórios por país tão cedo no âmbito do ciclo do Semestre Europeu. Nos últimos anos, os relatórios — então designados por documentos de TRABALHO dos serviços da Comissão — eram apresentados juntamente com as recomendações específicas por país em maio/junho. Só as análises aprofundadas, agora incorporadas nos relatórios por país, eram publicadas em março. A sua publicação com três meses de antecedência proporciona mais tempo para debater com as partes interessadas e uma maior apropriação por parte dos Estados-Membros.

RESUMO DAS DECISÕES DE 25 DE FEVEREIRO PARA OS PROCEDIMENTOS RELATIVOS AOS DESEQUILÍBRIOS MACROECONÓMICOS (PDM) DE 2015


            - A Bélgica está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. A evolução da situação no que diz respeito à competitividade externa das mercadorias continua a apresentar riscos e merece atenção, dado que uma nova deterioração da situação ameaçaria a estabilidade macroeconómica. Novas medidas para garantir a convergência dos parâmetros de custos poderiam abrandar a redução do emprego nos setores de bens transacionáveis e progressos concretos para reduzir a histórica diferença de custos poderão ser induzidos pela deslocação da pressão fiscal para outras fontes que não os rendimentos laborais. A dívida pública continua a ser elevada mas há vários fatores que atenuam os riscos macroeconómicos associados.
            - A Bulgária está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Concretamente, a turbulência que afetou o setor financeiro em 2014 suscitou preocupação quanto à existência nos estabelecimentos bancários nacionais de práticas com implicações potencialmente consideráveis para o setor financeiro e a estabilidade macroeconómica global. Além disso, o facto de a situação das contas externas ser ainda negativa, embora tenha registado algumas melhorias, o endividamento excessivo das empresas, assim como a rigidez do mercado laboral, continuam a representar riscos macroeconómicos e merecem uma atenção especial.
            - A Alemanha está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas decisivas. Os riscos aumentaram, dada a persistência do insuficiente investimento público e privado, que constitui um travão ao crescimento e contribui para o elevado excedente da balança de transações correntes, que continua a merecer uma atenção especial. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia alemã e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A Irlanda está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. A Irlanda concluiu o programa de assistência financeira UE-FMI em 2013 e é atualmente objeto de supervisão pós-programa e de vigilância no âmbito do Semestre Europeu. Apesar da melhoria clara das perspetivas económicas, os riscos relacionados com os elevados níveis de endividamento dos setores público e privado, os desafios que ainda se colocam ao setor financeiro, nomeadamente quanto à rentabilidade dos bancos, e o ajustamento de um mercado laboral caraterizado por um elevado desemprego estrutural, continuam a merecer uma atenção especial.
            - A Espanha está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. A Espanha saiu do programa de assistência financeira para a recapitalização das instituições financeiras em 2014, sendo atualmente objeto de supervisão pós-programa e de vigilância no âmbito do Semestre Europeu. Apesar de se terem verificado algumas melhorias no reequilíbrio da balança de transações correntes, os riscos relacionados com os altos níveis de endividamento dos setores público e privado e a posição líquida altamente negativa do investimento estrangeiro continuam a merecer uma grande atenção, num contexto que se carateriza por uma taxa de desemprego muito elevada. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia espanhola e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A França está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Em maio, com base nos programas nacionais de reforma e nos outros compromissos de reformas estruturais anunciados até então, a Comissão decidirá quanto à ativação do procedimento por desequilíbrios excessivos. Num contexto de fraco crescimento e baixa inflação, associados a uma reduzida rentabilidade das empresas e tendo em conta a insuficiência das medidas adotadas até à data, os riscos decorrentes da deterioração da competitividade, baseada ou não nos custos, e do elevado e crescente endividamento, em especial da dívida pública, aumentaram consideravelmente. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia francesa e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A Croácia está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Em maio, com base nos programas nacionais de reforma e nos outros compromissos de reformas estruturais anunciadas até então, a Comissão decidirá quanto à ativação do procedimento por desequilíbrios excessivos. Num contexto de crescimento lento, de atraso na reestruturação das empresas e de fraco desempenho do emprego, os riscos associados à baixa competitividade, à volumosa dívida externa e ao aumento da dívida pública, associados a uma pobre governação do setor público, têm aumentado significativamente.
            - A Itália está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Num contexto de fraco crescimento prolongado e de persistente baixa produtividade, os riscos decorrentes da dívida pública muito elevada e da baixa competitividade, baseada ou não nos custos, aumentaram consideravelmente. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia italiana e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A Hungria está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas decisivas. Concretamente, continuam a merecer atenção os riscos decorrentes da posição internacional líquida ainda altamente negativa, apesar dos progressos registados no reequilíbrio das contas externas, da elevada dívida pública, bem como da forte sobrecarga regulamentar que incide no setor financeiro e do elevado montante de crédito malparado, o que dificulta a redução do endividamento.
            - Os Países Baixos estão a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Persistem os riscos decorrentes do elevado endividamento privado, que merecem atenção apesar das medidas recentemente adotadas para apoiar a recuperação no mercado da habitação e a contenção do crescimento do crédito hipotecário. Embora o elevado excedente da balança de transações correntes se deva em parte às características estruturais da economia, a estrutura dos regimes fiscal e de pensões podem ser uma fonte de afetação ineficiente do capital.
            - Portugal está a registar desequilíbrios excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Portugal terminou o programa de ajustamento económico em 2014 e é atualmente objeto de supervisão pós-programa e de vigilância no âmbito do Semestre Europeu. Apesar dos consideráveis progressos registados durante a execução do programa, tanto no que respeita ao ajustamento económico como às medidas adotadas, subsistem riscos importantes associados aos elevados níveis de endividamento, tanto interno como externo, em diversos setores que merecem uma atenção especial. Registam-se igualmente fortes pressões para reduzir o endividamento, num contexto de fraco crescimento, baixa inflação e elevado desemprego.
            - A Eslovénia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. O reequilíbrio encontra-se em curso e as medidas políticas globalmente decisivas, o aumento das exportações, assim como a melhoria das condições de crescimento reduziram os riscos em relação ao ano passado, em especial os associados à sustentabilidade das contas externas. Contudo, as carências a nível do governo das empresas, a elevada participação do Estado na economia, o nível ainda excessivo do endividamento das empresas, bem como o aumento da dívida pública, implicam riscos para a estabilidade financeira e o crescimento, devendo ser objeto de uma atenção especial. Esses desequilíbrios deixaram, assim, de ser considerados excessivos, mas continuam a merecer uma atenção especial.
            - A Finlândia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Concretamente, devem ser objeto de atenção os riscos relacionados com o fraco desempenho das exportações num contexto de reestruturação industrial. Embora tenha sido, em grande medida, posto termo à quebra no setor das exportações e das indústrias transformadoras, o investimento continua a ser reduzido e o crescimento potencial diminuiu. A dívida do setor privado estabilizou e não parece ser uma fonte de preocupação imediata, mas o seu nível relativamente elevado exige uma supervisão atenta.
            - A Suécia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Concretamente, o endividamento das famílias mantém-se em níveis muito elevados e continua a crescer em resultado do aumento dos preços do imobiliário, da persistência das baixas taxas de juro, dos incentivos fiscais ainda atrativos e das limitações da oferta de habitação. Os desenvolvimentos macroeconómicos associados à dívida privada continuam a merecer atenção.
            - A Roménia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Nos três programas da UE/FMI consecutivos, os desequilíbrios externo e interno foram consideravelmente reduzidos. Todavia, os riscos decorrentes da posição líquida relativamente negativa do investimento estrangeiro e das fracas capacidades de exportação a médio prazo devem ser objeto de atenção. Por outro lado, a estabilidade do setor financeiro tem sido preservada, mas persistem as vulnerabilidades, internas e externas, do setor bancário.
            - Reino Unido está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Concretamente, os riscos relacionados com o elevado nível de endividamento das famílias, decorrente das características estruturais do mercado da habitação, continuam a merecer atenção. A capacidade de resistência da economia e do setor financeiro aumentou. No entanto, a escassez de habitação deverá persistir, o que permitirá sustentar a médio prazo os elevados preços da habitação, continuando a prejudicar a resiliência do setor face aos riscos” (fonte: Comissão Europeia, Bruxelas, 25 Fevereiro 2015)