quinta-feira, setembro 25, 2014

Ex-patrão de Passos deseja que o pedido à PGR “corra bem para termos primeiro-ministro até às próximas eleições”

"Quase dois anos depois da primeira notícia sobre a Tecnoforma, Passos Coelho continua sem se lembrar se recebeu remunerações enquanto presidia ao Conselho Português para a Cooperação ( CPPC). E o histórico do PSD e cofundador do centro também não pode ajudar a falta de memória de alguém que conhece “há mais de 30 anos”. Ângelo Correia disse ontem ao DN que não se pronuncia “até ser conhecido o parecer do Ministério Público, mas desejo que tudo corra bem nesse aspeto até para termos primeiro- ministro até às próximas eleições”. O antigo patrão de Passos Coelho na Fomentinvest garantiu que no CPPC limitou- se a “dar o nome” e que “nem conhecia a Tecnoforma, aliás, nem hoje conheço”. Mesmo não apontando o dedo diretamente a Passos Coelho, Ângelo Correia garantiu que por prudência tem acesso a tudo o que recebeu, mesmo em anos longínquos. “Tenho sempre a cópia do IRS. Guardo as cópias do IRS de todos anos, dá jeito para evitar problemas de não me recordar”, referiu.As declarações de Ângelo Correia surgem no dia em que a Procuradoria- Geral da República recebeu o pedido do primeiro- ministro para que esclareça se este recebeu ou não rendimentos do CPPC entre 1997 e 1999, enquanto era deputado. E deu uma garantia: vai analisar o requerimento “no âmbito das competências legalmente previstas”. Não tendo Passos Coelho tirado partido da figura da exclusividade no Parlamento, resta ao Ministério Público analisar uma alegada evasão fiscal, que até já terá prescrito. Quanto à exclusividade, o DN confirmou autenticidade da assinatura de Passos Coelho no documento, datado de 17 de fevereiro de 2000, em que este pede o subsídio de reintegração e refere que foi deputado “em regime exclusividade”.
O DN questionou o gabinete do primeiro- ministro sobre o facto de não ter entregado a declaração de rendimentos de cessação de funções de deputado em 1999. O documento podia ( e devia, de acordo com a lei) comprovar que rendimentos recebeu o agora primeiro- ministro enquanto deputado e no período em análise pelo MP. De São Bento não chegou, porém, nenhuma resposta em tempo útil. Prudentes, alguns “senadores” do PSD preferem esperar pelo MP para se pronunciarem. Contactados pelo DN, o antigo ministro Morais Sarmento e o fundador do PSD, Miguel Veiga, não quiseram comentar o “caso Tecnoforma”. Miguel Veiga aplaudiu no entanto o pedido de ajuda de Passos Coelho à PGR: “Todos os esclarecimentos nesta matéria são bons.” O também histórico do PSD Mota Amaral disse ontem na TSF que o envio do requerimento para o MP foi uma “boa i ntenção” de Passos, mas que este “pode ter batido na porta errada”. “O primeiro- ministro podia ter espevitado a memória para responder quando a questão surgiu.”
PS pressiona Cavaco
O PS pressionou Cavaco Silva, através de um dos vices da bancada. Num comentário ao “caso Tecnoforma”, José Junqueiro afirmou que “resta saber, mais uma vez, se o Presidente da República tem agora melhor informação e continua a pensar que está tudo bem”. Para o deputado “não é fácil aceitar que decorridos estes dias a memória [ de Passos Coelho] não tivesse sido recuperada através de esforço pessoal e voluntário”, vincando ainda que Passos “introduziu na opinião pública a ideia de que se poderia ir embora”, tese que a maioria rejeitou de imediato. Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, defendeu que a liderança de Passos Coelho é “firme” e “honesta” e que o Executivo “vai cumprir a legislatura até ao fim”. Igual linha de raciocínio foi apresentada pelo líder da bancada do CDS, Nuno Magalhães, que afirmou que Junqueiro fez uma “acusação sonsa” e reiterou que os centristas têm “confiança na palavra do primeiro- ministro”.
Porém, a gestão que Passos Coelho tem feito da situação não deixa de preocupar alguns membros do Governo e do próprio PSD. O facto de o primeiro- ministro não ter dado “uma resposta inequívoca que não suscitasse qualquer dúvida acrescida”, segundo uma fonte governamental, foi vista com apreensão. Da parte do CDS, o DN sabe que esta controvérsia é para os centristas matéria de preocupação. O CDS está focado em utilizar este último ano de mandato para recuperar a imagem pública do desempenho do partido. “Isto aparece numa péssima altura, agora que queremos é olhar para o futuro”, admite fonte próxima do direção do partido" (texto do DN Lisboa, com a devida vénia)