Li no Jornal I que "não é apenas uma questão de timing. Mas também.
A maioria dos inquiridos mostra-se contra a realização de um referendo e mais
de 50% dizem que o momento não é "nada oportuno". Os portugueses não
querem que a co--adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo seja
levada a referendo. A opinião fica clara com o barómetro i/Pitagórica de
Janeiro - 58,1% dos inquiridos mostram-se descontentes com a possibilidade de
serem convocados a pronunciar-se sobre este tema. Esta semana, o cenário proposto
pelo PSD subiu a um novo patamar. Depois da aprovação na Assembleia da
República - pelos deputados do PSD, obrigados a disciplina de voto - o
Presidente decidiu enviar o projecto para o Tribunal Constitucional, afastando
o cenário de um veto político prévio. Esta possibilidade não fica excluída, mas
a realização do referendo ganhou, com o gesto, outra dimensão. Se decidir
viabilizar a consulta popular, a escolha de Cavaco Silva agradará a não mais
que 30% dos portugueses, quase metade daqueles que se opõem ao referendo. De
facto, apenas 3,9% dos inquiridos mostra convicção absoluta na auscultação dos
portugueses ("concordo totalmente"). No outro extremo, são 28,3%
aqueles que rejeitam por completo a proposta avançada pelo deputado social-democrata
Hugo Soares ("discordo totalmente"). Nem mesmo o timing em que esta
possibilidade é lançada para cima da mesa merece a aprovação da maioria dos
inquiridos. Os próprios proponentes já reconheceram que este não é o tema mais
importante com que os portugueses estão confrontados, numa altura em que o país
se prepara para fechar três anos de programa de assistência financeira. Nesse
mesmo sentido pronunciam--se 72,6% dos inquiridos do barómetro. A esmagadora
maioria considera que o momento está longe de ser o ideal para um referendo
sobre a co--adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo. Desses
portugueses, 50,4% dizem mesmo que o momento escolhido para alargar o debate -
foi esse o argumento apresentado pelo presidente da JSD para justificar a
proposta de referendo - não é "nada oportuno".
MAIORIA APROVA ADOPÇÃO
A assertividade que os portugueses mostram sobre a realização do
referendo esvai-se no exacto momento em que são confrontados com a questão
fundamental: devem ou não os casais do mesmo sexo poder co-adoptar, ou mesmo
adoptar, crianças? À imagem daquilo que aconteceu na votação do diploma do PS
na Assembleia da República, em Maio de 2013 - e ainda que aí se votasse apenas
a possibilidade de abrir a porta à co-adopção -, os pesos da balança ficam repartidos
em duas metades quase iguais, se considerada a margem de erro do barómetro. De
um lado estão todos aqueles que concordam com ambas as perguntas a que poderão
ser chamados a responder em referendo - que no caso do barómetro é apresentada
numa formulação única, ao contrário daquilo que acontecerá num futuro
referendo. Ao todo, 43,5% dos inquiridos revêem-se no princípio consagrado no
diploma apresentado pelo PS e gostariam de ver o conceito alargado à adopção
plena. Do outro lado, e à distância de pouco mais de três pontos, estão aqueles
que se opõem ao alargamento total dos direitos parentais dos casais do mesmo
sexo, deixando-os em pé de igualdade com a situação já em vigor para casais
heterossexuais. São 41,9% - um pouco menos que a súmula das opiniões favoráveis
- e rejeitam, quer a adopção, quer a co-adopção de menores por casais do mesmo
sexo. O tema deixa indiferentes - "não concordo nem discordo" - uma
parcela significativa de inquiridos. Se forem considerados como tendo opiniões
em aberto, passíveis de ficar fechadas até à realização do referendo, os 12,3%
de elementos que compõem este grupo podem fazer pender a decisão da consulta
popular - que, a concretizar--se, deverá acontecer já depois do Verão - para
qualquer um dos lados da balança".