"Este meu texto de hoje pretende levar aos leitores
um conto de Natal, muito conhecido no norte do País:
“Era uma vez
uma família pobre, que vivia numa casa muito velha numa aldeia transmontana.
Clarinha acordou muito feliz, era véspera Natal. Ela sabia que nesse dia o Pai
Natal visitava todas as crianças e lhes deixava os seus presentes. Nessa noite,
Clarinha quase nem dormiu com tanta ansiedade. Como não tinha árvore de Natal,
deixou a sua meia pendurada na janela para que o Pai Natal lhe deixasse lá o
seu presente. Na manhã seguinte, reparou que a sua meia estava vazia e que não
havia presente nenhum. O seu pai, homem doente e desempregado, observava
atentamente a filha, com muita tristeza. E então chamou-a:
-
Clarinha, vem cá!
A
menina com os olhos cheios de lágrimas sentou-se no seu colo e disse:
-
O Pai Natal esqueceu-se de mim, papá! Porquê?
O
pai não conseguiu conter as lágrimas, que lhe escorriam nas faces. Então a
menina ao ver o pai a chorar perguntou:
-
Porque choras papá? O Pai Natal também se esqueceu de ti?
E
então o pai disse:
-
Não, minha filha, o Pai Natal não se esqueceu de mim porque me deu o melhor
presente que algum dia eu poderia ter. Esse presente és tu e eu sei que o Pai
Natal também não se esqueceu de ti, porque te deu uma família que gosta muito
de ti e que deseja que sejas feliz.
Nesse
dia, o pai, mesmo doente, levou a sua filha para um passeio na montanha,
brincaram todo o dia, regressando no começo da noite.
Nessa
noite Clarinha decidiu escrever uma carta ao Pai Natal, dizendo:
“Querido
Pai Natal, quero agradecer o presente que me deu. Desejo que todos os Natais
sejam com o meu pai, que as nossas brincadeiras o façam esquecer dos problemas
e que ele se possa distrair comigo, passando um dia maravilhoso como o de hoje.
Obrigada pela minha vida, pois descobri que não somos felizes só com
brinquedos, mas sim com o verdadeiro sentimento que está dentro de nós e que o
Pai Natal desperta todos os anos. Obrigada. Clarinha.” E adormeceu,
com um sorriso nos lábios.
O
pai de Clarinha quando viu a menina a dormir, aconchegou-lhe os velhos
cobertores para que não tivesse frio. Nesse instante viu a cartinha que ela
tinha escrito ao Pai Natal e leu-a. A partir desse dia, o pai da menina não
deixou que os seus problemas afectassem a sua felicidade e começou a fazer de
todos os dias, um dia de Natal”.
***
Há muitos anos, há demasiados anos,
que não tenho os meus pais no Natal. Ainda na minha tenra infância, deixei de
os poder ter comigo. Portanto, guardo deles uma ténue recordação. Algumas vezes
pensei, confesso, que um bom presente de Natal, neste meu percurso de vida, seria
poder ter os meus pais de volta, mesmo que fosse por um dia, abraçá-los e dizer
o quanto eles me fizeram falta. Valeu-me o facto de ter tido a sorte de ter uma
família que me ajudou a superar isso tudo, e a quem eternamente estarei grato.
E amigos que me ajudaram quando deles precisei. Quase todos já partiram, porque
a idade e a Vida são implacáveis. É deles que me lembro nesta época do ano, recordando-os
a todos com saudade, com o coração pesado. Às famílias, a todas as famílias da
minha terra, desejo que trabalhem sempre pela consolidação da sua união, que
enterrem divergências tontas e que esqueçam as diferenças que muitas causam
divisões, geram incompatibilidades e dividem o que deve estar unido. O Natal é,
de facto, a festa da família. Mais do que o consumismo que nesta época a todos
atinge. Nos dias de hoje quero estar com os meus, com a minha família, garantindo
a partilha com eles de uma quadra que tanto me entusiasma, apesar de reconhecer
que o chamado espírito natalício, neste país roubado, vendido, explorado e
vilipendiado e para este povo sofredor, destruído, manipulado roubado e
enganado, é algo que se está a perder. Estar com os meus é a maior satisfação que
me dá. Tudo o resto não conta, vale zero. Boas Festas" (JM)