"Quero
partilhar neste espaço uma história de Natal, originária do Brasil, contada na
primeira pessoa, e que achei que deveria ser aqui trazida, sobretudo nesta
ocasião em que nos preparamos para entrar num dos anos mais difíceis,
porventura dos mais dramáticos de sempre das nossas vidas nas últimas duas ou
três décadas, e que nos leva a recordar os nossos, que já partiram:
“Exactamente na véspera de Natal, eu
corri ao mercado para comprar os últimos presentinhos, que eu não tinha
conseguido comprar antes. Quando eu vi todas aquelas pessoas no mercado,
comecei a reclamar comigo mesma:
- "Isto vai demorar a vida toda,
e eu ainda tenho tantas coisas para fazer, outros lugares para ir. O Natal está
ficando pior a cada ano. Como eu gostaria de poder apenas me deitar, dormir e
só acordar após tudo isso".
Sem notar, fui andando até à secção de
brinquedos, e lá comecei a bisbilhotar os preços, imaginando se as crianças
realmente brincam com esses brinquedos tão caros. Enquanto olhava a secção de
brinquedos, notei um garoto de mais ou menos 5 anos pressionando uma boneca
contra o peito. Ele acarinhava o cabelo da boneca e olhava tão triste, e fiquei
tentando imaginar para quem seria aquela boneca que ele tanto apertava. O
menino virou-se para uma senhora que estava próxima e disse:
-"Avó, você tem certeza que eu
não tenho dinheiro suficiente para comprar esta boneca?"
A senhora respondeu:
-"Você sabe que o seu dinheiro
não é suficiente, meu querido!"
Ela perguntou ao menino, se ele
poderia ficar ali olhando os brinquedos por 5 minutos, enquanto ela iria olhar
outra coisa. O pequeno menino estava segurando a boneca em suas mãos.
Finalmente comecei a andar em direcção ao garoto e perguntei para quem ele
queria dar aquela boneca. Ele respondeu:
- "Esta é a boneca que a minha
irmã mais adorava, e queria muito ganhar neste Natal. Ela estava tão certa que
o Pai Natal traria esta boneca para ela este ano."
Eu disse:
"Não fique tão preocupado, eu
acho que o Pai Natal trará a boneca para a sua irmã."
Mas ele triste disse-me:
-"Não, o Pai Natal não poderá
levar a boneca onde ela está agora. Eu tenho que dar esta boneca para a minha
mãe, assim ela poderá dar a boneca à minha irmã, quando ela for lá."
Os seus olhos encheram-se de lágrimas
enquanto ele falava:
-"Minha irmã teve que ir para
junto de Deus. O papai disse-me que a mamãe também irá embora para perto de
Deus em breve. Então eu pensei que a mamãe poderia levar a boneca com ela e
entrega-la à minha irmã.".
Meu coração quase parou de bater.
Aquele garotinho olhou para mim e disse:
-"Disse ao papai para dizer a
mamãe que não fosse ainda. Pedi-lhe que esperasse até eu voltar do
mercado."
Depois ele mostrou-me uma foto muito
bonita dele rindo:
- "T ambém quero que a mamãe leve esta foto, assim ela também não se
esquecerá de mim. Amo a minha mãe e gostaria que ela não tivesse que partir
agora, mas meu pai disse que ela tem que ir para ficar com a minha
irmãzinha."
Ele ficou olhando para a boneca com os
olhos tristes e muito quietinho. Rapidamente procurei a minha carteira e peguei
algumas notas e disse para o garoto:
- "E se nós contássemos novamente
o seu dinheiro, só para termos certeza de que você tem o dinheiro para comprar
a boneca?"
Coloquei as minhas notas junto ao
dinheiro dele, sem que ele percebesse, e começamos a contar o dinheiro. O
dinheiro daria para comprar a boneca e ainda sobraria um pouco.
E o garotinho disse:
-"Obrigada Senhor, por atender o
meu pedido e me dar o dinheiro suficiente para compra a boneca". Ele olhou
para mim e disse:
- "Ontem antes de dormir eu pedi
a Deus que fizesse com que eu tivesse dinheiro suficiente para comprar a
boneca, assim a mamãe poderia levar a boneca. Ele me ouviu e eu também queria
um pouco mais de dinheiro para comprar uma rosa branca para minha mãe, mas eu
não ousaria pedir mais nada a Deus. Ele deu-me dinheiro suficiente para comprar
a boneca e a rosa branca. Você sabe, a minha mãe adora rosas brancas."
Uns minutos depois, a senhora voltou e
eu fui embora sem ser notada. Terminei as minhas compras num estado totalmente
diferente do que havia começado. Entretanto não conseguia tirar aquele
garotinho do meu pensamento.
Lembrei-me de uma notícia no jornal
local, dois dias antes, que referia que um homem bêbado batera noutro carro
ocupado por uma jovem senhora e uma menininha. A criança faleceu imediatamente,
a mãe estava em estado grave nos cuidados intensivos, tendo a família decidido
desligar as máquinas, uma vez que a jovem não sairia do estado de coma. Pensei,
se seria a família daquele garotinho. Dois dias depois do meu encontro com o
garotinho, li no jornal que a jovem senhora tinha falecido. Não me contive e
sai para comprar rosas brancas. Fui ao velório daquela jovem. Ela estava
segurando uma linda rosa branca nas suas mãos, junto à foto do garotinho e com
a boneca em seu peito. Deixei o local chorando. O amor daquele garotinho por
sua mãe e irmã continua gravado na minha memória até hoje. É difícil de acreditar
e imaginar que numa fração de segundos, um bêbado tenha tirado tudo àquele
pequeno garotinho”.
Boas
Festas" (JM)