“Pela 1.ª vez
grupo político europeu mais votado poderá propor um presidente da Comissão.
Quase um quarto dos eurodeputados poderão sair de movimentos ou partidos
anti-UE ou críticos da UE. As europeias
tornaram-se umas eleições de segunda categoria em que a falta de interesse se
traduz numa forte abstenção (em Portugal, em 2009, foi de 63,22%). No entanto,
no escrutínio de maio de 2014, há dois novos fatores a ter em conta: este será
o primeiro Parlamento Europeu (PE) eleito à luz das regras do novo Tratado de
Lisboa e estas serão as primeiras eleições europeias do pós-crise,
pós-austeridade, pós-resgate, pós-troika e do pós-descredibilização dos
partidos e do sistema político tradicional.
O tratado, em
vigor desde 2009, reforça os poderes do PE e estabelece que o Conselho Europeu
deverá ter em conta o resultado das europeias na escolha do novo presidente da
Comissão Europeia. Este terá depois de ser aprovado pela maioria dos
eurodeputados. Tal novo poder inspirou alguns grupos políticos europeus a
apresentarem já candidatos à Comissão. É o caso dos socialistas europeus, que
escolheram Martin Schulz, alemão do SPD e atual presidente do PE, mas também da
Esquerda Europeia, que selecionou Alexis Tsipras, grego e líder do Syriza.
"Estas
eleições devem ser diferentes e dão aos cidadãos a oportunidade de decidir
sobre o futuro presidente da Comissão. Alguns partidos já divulgaram os seus candidatos.
Mas falta saber se todos vão seguir as regras do jogo para que esse mecanismo
funcione", diz ao DN Renaud Dehousse, professor na universidade Sciences
Po Paris, referindo-se à necessidade de haver também um candidato do Partido
Popular Europeu (PPE), atualmente o maior grupo político no PE.
No dia 19, em
Bruxelas, o PPE indicou que poderia entrar no jogo. Na habitual reunião do
grupo político, que antecede a realização do Conselho Europeu, o seu
presidente, o eurodeputado Joseph Daul, fez saber que há pelo menos seis
candidatos a candidato à sucessão de Durão Barroso, o português que há quase
dez anos está em Bruxelas (sendo que nunca descartou a hipótese de avançar para
um inédito terceiro mandato). Fontes citadas pela agência EFE falam nos primeiros-ministros
polaco, finlandês e irlandês, Donald Tusk, Jyri Katainen e Enda Kenny, do
ex-líder do Eurogrupo e ex-primeiro-ministro do Luxemburgo Jean-Claude Juncker,
no comissário europeu do Mercado Interno Michel Barnier e no
ex-primeiro-ministro da Letónia Valdis Dombrovskis. O favorito parece ser, no
entanto, Juncker. Questionado sobre o assunto, ao Le Monde, disse estar pronto
se o convidarem. O PPE deverá escolher o candidato em março em Dublin.
"Tenho
dúvidas é se vai haver uma verdadeira campanha europeia nestas eleições com os
candidatos a presidente da Comissão a dizer qual é o seu programa. Penso que a
campanha europeia não passará de uma coleção de campanhas nacionais em que os
partidos nacionais vão aproveitar para recuperar notoriedade a nível
interno", afirma ao DN José Ignacio Torreblanca, professor de Ciência
Política, analista do European Council on Foreign Relations em Madrid e
colunista semanal do El País.
A crise, o
elevado desemprego e o drama social a ele associado, a austeridade, a falta de
crescimento e de perspetivas de futuro, as vagas de imigração, os programas de
resgate da troika. Tudo isso - e não a eleição do presidente da Comissão
Europeia - poderá fazer que estas europeias sejam mais debatidas e
interessantes. É essa a opinião de Eckart Stratenschulte, professor da Academia
Europeia de Berlim. "Estima-se que até um quarto do próximo PE seja
composto por eurodeputados de partidos ou movimentos contra a UE ou críticos da
UE", afirma ao DN, lembrando que partidos nacionalistas como a Frente
Nacional de Marine Le Pen em França ou o Partido para a Liberdade de Geert
Wilders na Holanda apenas querem usar a eurocâmara como tribuna para se
promoverem na política doméstica dos seus países e pressionarem os líderes dos
partidos maiores. "Não são claramente uma força unida no Parlamento
Europeu, para propor iniciativas, pois em certos pontos defendem até coisas
diferentes uns dos outros", constata o especialista alemão, adiantando que
o poder destes partidos é usado para destruir e não construir” (texto de Patrícia
Viegas, DN de Lisboa, com a devida vénia)