quarta-feira, novembro 27, 2013

Carlos Costa diz que Orçamento ameaça agravar crédito malparado



Diz o DinheiroVivo que “o Orçamento do Estado para 2014, ontem aprovado pela maioria PSD/CDS, deve complicar ainda mais os orçamentos familiares e, eventualmente, “continuar materializar-se num aumento do incumprimento de famílias e de sociedades não financeiras [empresas]”, diz o Banco de Portugal (BdP), governado por Carlos Costa. Funcionários públicos e pensionistas estão na linha da frente em relação a este impacto. Embora sublinhe os méritos da redução da despesa pública – ajuda a restabelecer a confiança na economia e liberta recursos financeiros para o sector privado – o BdP avisa que a consolidação orçamental não é amiga do crescimento e emprego e constitui uma ameaça à própria estabilidade financeira, do sistema bancário. Por um lado, diz o relatório semestral sobre a estabilidade financeira  do BdP, ontem apresentado, “finanças públicas sólidas e sustentáveis constituem um elemento crucial para a confiança dos agentes económicos” e “um fator necessário à tomada de decisões que favoreça a afetação mais eficiente dos recursos da economia portuguesa, promovendo a competitividade, e para garantir o seu financiamento em condições sustentáveis a médio e longo prazos”. Mas por outro lado, “o impacto concreto das medidas orçamentais que virão a ser adotadas, seja no curto ou no médio e longo prazos, sobre a despesa privada e o crescimento económico é incerto”. Para o banco central, “a conclusão e consolidação do ajustamento dos desequilíbrios estruturais acumulados nas últimas décadas exige ainda um esforço adicional, significativo e permanente”. O cenário pós troika também preocupa: “subsiste incerteza relativamente às medidas adicionais a adotar no futuro (sejam elas ao nível orçamental ou de índole estrutural) e quanto ao seu impacto no crescimento económico”. Mas em concreto, “as medidas de consolidação orçamental apresentadas no OE2014, tendentes a diminuir o rendimento dos funcionários públicos no ativo e dos aposentados da função pública, após um aumento significativo da carga fiscal, terão efeitos no rendimento disponível das famílias, afetando as respetivas decisões de consumo e de poupança”. Estas medidas “podem ter impacto negativo sobre a procura interna e, assim, dificultar a recuperação do emprego, com eventual reflexo no número de famílias que possam vir a confrontar-se com a impossibilidade de garantir os compromissos de crédito assumidos”. O estudo refere ainda para além das famílias, também muitas empresas podem cair nesta situação de incumprimento. Os números falam por si. “No primeiro semestre de 2013, o rácio de crédito em risco continuou a aumentar, sendo particularmente significativo no caso do crédito a sociedades não financeiras e mantendo-se mais contido e estável no segmento de crédito a particulares para fins de habitação”. “Cerca de 30% das empresas com dívida financeira encontravam-se em situação de incumprimento” em junho passado. Assim, o rácio de malparado (peso da cobrança duvidosa no crédito total) é superior nas empresas (11,3%), quase o triplo face a 2010. Entre as famílias, o rácio global está em 4,9%, sendo sobretudo grave no segmento do crédito ao consumo (14,2%). Na habitação aumentou, mas ainda está relativamente baixo (3,2%)”.