Enquanto
a vaca deu leite, Sócrates foi o "maior" no que à propaganda diz
respeito. A equipa que teve ao seu dispor conseguiu durante alguns anos centrar
as prioridades e as atenções das pessoas em questões que não tinham rigorosamente
nada a ver com aquilo que, como se viu no início de 2011, era a aposta na
falência do país, no pedido urgente de ajuda externa, na entrada da troika em
Portugal e na imposição da austeridade pela qual pagamos. Independentemente
disso, é um facto que a propaganda socialista no tempo de Sócrates, no primeiro
mandato e no primeiro ano do segundo mandato, foi imbatível. O acesso à
comunicação social era facilitado, as notícias montadas pela propaganda eram garantidamente
difundidas e com destaque. Mas quando as coisas ficaram negras, quando todos
começaram a perceber que o país caminhava para o fosso e para o abismo, quando
se começou a constatar que não havia alternativa ao fracasso iminente, a
propaganda de Sócrates falhou apesar de ter sido das últimas a abandonar o
barco. A equipa foi-se desfazendo depois da derrota eleitoral de Sócrates em
Junho de 2011 - alguns deles hoje trabalham diretamente com o grupo parlamentar
e com António José Seguro.
Na
mesma linha estava Passos - embora em grande medida influenciado pela presença
de Relvas ao seu lado a partir pedra até sentar o primeiro-primeiro na cadeira
do poder no PSD - claramente um vencedor de uma eleição que foi um dos maiores
embustes de que há memória e uma das maiores aldrabices eleitorais e políticas
até hoje. Basta comparar o que foi dito e prometido durante a campanha
eleitoral, o tipo de discurso feito antes das eleições e depois da posse do
governo de coligação para se perceber facilmente o que quero dizer. Mais
impreparada, mais incompetente, mais ridícula, a verdade é que a propaganda
governativa dos novos tempos, depois da rafeirada e da mediocridade dos dois
primeiros anos, tem vindo nos últimos meses a conhecer alguma mudança de estilo
e de conteúdo, graças ao envolvimento nestes domínios de Paulo Portas, só
depois do reforço dos seus poderes na coligação e no governo - na sequência de
um processo político de pura encenação mediática e manipulação - sem esquecer a
experiência do dirigente do CDS nestes domínios da propaganda, da intriga, da falsidade
e da manipulação e do jornalismo político. Basta constatar, por exemplo, entre
outros itens que poderia desenvolver, o facto de que são os ministros e demais
governantes do CDS - apesar de tutelarem os sectores governativos mais
pressionados, casos da Economia, da Segurança Social e da Agricultura e dos
Assuntos Fiscais (impostos) - quem tem dado nos últimos tempos as chamadas
"notícias brancas", essencialmente seletivas e positivas, nunca
agressivas, que apontam para cenários paradisíacos e procuram fugir a tudo o
que cheire a austeridade, cortes ou roubalheiras. Incrível, mas inteligente,
reconheço-o.
Veja-se
que o novo ministro da Economia - que não tem acrescentado rigorosamente nada à
governação apesar de ter contado sempre com uma "imprensa favorável"
antes de ter tomado posse - apesar de ter falado muito, mesmo muito, antes de
chegar ao tacho ministerial por ele tão desejado, depois disso pouco ou nada
conseguiu. O salário mínimo foi ao ar, a redução do IVA na restauração teve o mesmo
destino e até a bandeira da descida do IRC para as empresas em dois pontos,
absolutamente insignificantes, não tardarão a mostrar a anormalidade de uma
medida que deveria ter sido mais ambiciosa, tinha a obrigação de ter sido mais
ambiciosa.
Esta
semana, durante as jornadas dos partidos da coligação, Portas confirmou essas
aptidões, de manipulação da propaganda e de fabricação de factos políticos.
Desde logo pela forma como manipulou, uma vez mais, o debate entre um alegado
2ª resgate - que sendo sempre possível não é hoje mais do que um instrumento de
chantagem, de pressão e de medo sobre as pessoas - e um pretenso programa
cautelar, esquecendo deliberadamente - aliás na linha do seu submisso Coelho -
as exigências que um programa cautelar, menos agressivo que o resgate, é certo,
colocará na mesma e apesar de tudo aos cidadãos, à economia e às finanças
públicas.
Paulo
Portas afirmou naquelas jornadas que "é possível que Portugal esteja a
poucas semanas de saber oficialmente que saiu de uma recessão técnica que durou
mil dias". Esta ingenuidade infantil de Portas engana os mais distraídos.
Os mais atentos certamente percebem que Portas falou da forma que falou porque
já tem conhecimento mínimo do conteúdo de indicadores preliminares, não
divulgados, que apontam para sinais de recuperação, e que é possível que
tecnicamente - diferente do que se passa na realidade - possamos considerar que
o nosso país saiu da recessão. Mas na realidade quando temos 1 milhão de
desempregados - incluindo o desemprego oculto - os maiores índices de pobreza e
de exclusão social, os dramas sociais em milhares de famílias a uma escala
nunca antes vista, que trampa de
conceito técnico é esse da saída da recessão quando nos confrontado com o país
real, esse imenso país silencioso que tem sido roubado descaradamente, há quase
três anos, por uma corja que se julgam emissários divinos para nos vergarem a
todos como “pecadores” e “culpados” pela desgraça que ciclicamente acomete o
nosso país? Obviamente que as pessoas sabem que um país deixa de estar
tecnicamente em recessão quando apresenta dois trimestres consecutivos a
crescer.
E
lá surgiu o remate final: “Podemos estar a oito meses de uma vida melhor”. O
inconfundível estilo de Paulo Portas que quando as coisas correm para o torto é
o primeiro a “desaparecer” de circulação. O costume. Venha lá essa vida melhor
que todos precisamos, urgentemente. Porque do paleio dos protagonistas desta
coligação e das patifarias da sua governação estamos todos fartos.