terça-feira, outubro 29, 2013

Opinião pessoal: SOMOS UNS TONTINHOS?!



Enquanto a vaca deu leite, Sócrates foi o "maior" no que à propaganda diz respeito. A equipa que teve ao seu dispor conseguiu durante alguns anos centrar as prioridades e as atenções das pessoas em questões que não tinham rigorosamente nada a ver com aquilo que, como se viu no início de 2011, era a aposta na falência do país, no pedido urgente de ajuda externa, na entrada da troika em Portugal e na imposição da austeridade pela qual pagamos. Independentemente disso, é um facto que a propaganda socialista no tempo de Sócrates, no primeiro mandato e no primeiro ano do segundo mandato, foi imbatível. O acesso à comunicação social era facilitado, as notícias montadas pela propaganda eram garantidamente difundidas e com destaque. Mas quando as coisas ficaram negras, quando todos começaram a perceber que o país caminhava para o fosso e para o abismo, quando se começou a constatar que não havia alternativa ao fracasso iminente, a propaganda de Sócrates falhou apesar de ter sido das últimas a abandonar o barco. A equipa foi-se desfazendo depois da derrota eleitoral de Sócrates em Junho de 2011 - alguns deles hoje trabalham diretamente com o grupo parlamentar e com António José Seguro.

Na mesma linha estava Passos - embora em grande medida influenciado pela presença de Relvas ao seu lado a partir pedra até sentar o primeiro-primeiro na cadeira do poder no PSD - claramente um vencedor de uma eleição que foi um dos maiores embustes de que há memória e uma das maiores aldrabices eleitorais e políticas até hoje. Basta comparar o que foi dito e prometido durante a campanha eleitoral, o tipo de discurso feito antes das eleições e depois da posse do governo de coligação para se perceber facilmente o que quero dizer. Mais impreparada, mais incompetente, mais ridícula, a verdade é que a propaganda governativa dos novos tempos, depois da rafeirada e da mediocridade dos dois primeiros anos, tem vindo nos últimos meses a conhecer alguma mudança de estilo e de conteúdo, graças ao envolvimento nestes domínios de Paulo Portas, só depois do reforço dos seus poderes na coligação e no governo - na sequência de um processo político de pura encenação mediática e manipulação - sem esquecer a experiência do dirigente do CDS nestes domínios da propaganda, da intriga, da falsidade e da manipulação e do jornalismo político. Basta constatar, por exemplo, entre outros itens que poderia desenvolver, o facto de que são os ministros e demais governantes do CDS - apesar de tutelarem os sectores governativos mais pressionados, casos da Economia, da Segurança Social e da Agricultura e dos Assuntos Fiscais (impostos) - quem tem dado nos últimos tempos as chamadas "notícias brancas", essencialmente seletivas e positivas, nunca agressivas, que apontam para cenários paradisíacos e procuram fugir a tudo o que cheire a austeridade, cortes ou roubalheiras. Incrível, mas inteligente, reconheço-o.

Veja-se que o novo ministro da Economia - que não tem acrescentado rigorosamente nada à governação apesar de ter contado sempre com uma "imprensa favorável" antes de ter tomado posse - apesar de ter falado muito, mesmo muito, antes de chegar ao tacho ministerial por ele tão desejado, depois disso pouco ou nada conseguiu. O salário mínimo foi ao ar, a redução do IVA na restauração teve o mesmo destino e até a bandeira da descida do IRC para as empresas em dois pontos, absolutamente insignificantes, não tardarão a mostrar a anormalidade de uma medida que deveria ter sido mais ambiciosa, tinha a obrigação de ter sido mais ambiciosa.

Esta semana, durante as jornadas dos partidos da coligação, Portas confirmou essas aptidões, de manipulação da propaganda e de fabricação de factos políticos. Desde logo pela forma como manipulou, uma vez mais, o debate entre um alegado 2ª resgate - que sendo sempre possível não é hoje mais do que um instrumento de chantagem, de pressão e de medo sobre as pessoas - e um pretenso programa cautelar, esquecendo deliberadamente - aliás na linha do seu submisso Coelho - as exigências que um programa cautelar, menos agressivo que o resgate, é certo, colocará na mesma e apesar de tudo aos cidadãos, à economia e às finanças públicas.

Paulo Portas afirmou naquelas jornadas que "é possível que Portugal esteja a poucas semanas de saber oficialmente que saiu de uma recessão técnica que durou mil dias". Esta ingenuidade infantil de Portas engana os mais distraídos. Os mais atentos certamente percebem que Portas falou da forma que falou porque já tem conhecimento mínimo do conteúdo de indicadores preliminares, não divulgados, que apontam para sinais de recuperação, e que é possível que tecnicamente - diferente do que se passa na realidade - possamos considerar que o nosso país saiu da recessão. Mas na realidade quando temos 1 milhão de desempregados - incluindo o desemprego oculto - os maiores índices de pobreza e de exclusão social, os dramas sociais em milhares de famílias a uma escala nunca antes vista, que trampa de conceito técnico é esse da saída da recessão quando nos confrontado com o país real, esse imenso país silencioso que tem sido roubado descaradamente, há quase três anos, por uma corja que se julgam emissários divinos para nos vergarem a todos como “pecadores” e “culpados” pela desgraça que ciclicamente acomete o nosso país? Obviamente que as pessoas sabem que um país deixa de estar tecnicamente em recessão quando apresenta dois trimestres consecutivos a crescer.

E lá surgiu o remate final: “Podemos estar a oito meses de uma vida melhor”. O inconfundível estilo de Paulo Portas que quando as coisas correm para o torto é o primeiro a “desaparecer” de circulação. O costume. Venha lá essa vida melhor que todos precisamos, urgentemente. Porque do paleio dos protagonistas desta coligação e das patifarias da sua governação estamos todos fartos.