domingo, agosto 25, 2013

O homem que perdeu 99% da fortuna

Segundo o Sol, num texto do jornalista Pedro Guerreiro, "Eike Batista era o brasileiro mais rico e o oitavo maior bilionário do mundo. Quis ser o número um, mas o seu mais recente recorde é o de ter perdido 99% da fortuna em poucos meses. O Brasil tira lições da queda de um titã. É um problema com que a maioria dos leitores não se importaria de deparar: olhar o extracto bancário e constatar ter ‘apenas’ 150 milhões de euros. Mas como em quase tudo na vida, esta é uma história de perspectivas e de expectativas. Segundo a Bloomberg, estes 150 milhões de euros, ou 200 milhões de dólares, são tudo o que resta da imensa fortuna de um homem que esperava ser o mais rico do mundo até 2015. Eike Batista, brasileiro de 56 anos, tinha em 2012 cerca de 26 mil milhões de euros e personificava como poucos o recente milagre económico e social do maior país lusófono. Não sendo propriamente um self-made men, o filho de um antigo ministro da ditadura militar conquistou a admiração dos compatriotas ao transformar um pequeno negócio de ouro num império capaz de rivalizar com as maiores petrolíferas mundiais. De ascendência germânica, Eike estudou engenharia metalúrgica na Alemanha mas deixou o curso a meio para se tornar num intermediário entre os produtores brasileiros de ouro e os ourives europeus. Tornou-se milionário antes dos 30, mas o melhor estava ainda para chegar. Foi oportuno ao investir os rendimentos do ouro na rentável indústria do ferro e começou a construir um portefólio de minas no Brasil, Chile e Canadá. Complementou o negócio com a constituição de empresas de prestação de serviços associados à mineração – a logística LLX, os estaleiros OSX e a carbonífera CCX, entre outras, unidas sob o grupo EBX. O omnipresente ‘X’ era uma superstição. Eike fez questão de colocar a letra no final do nome de cada uma das suas empresas para simbolizar a expectável multiplicação da sua riqueza.
O poder da imagem
O grande salto para o ‘top 10’ dos mais ricos do mundo é recente. Em 2007, Eike concorre a uma concessão para explorar as jazidas de petróleo do pré-sal da baía de Santos. Na verdade, o brasileiro não tinha capital suficiente para montar uma operação de extracção de crude a sete quilómetros de profundidade. Normalmente, esta é uma aventura reservada para gigantes como a BP, a Shell ou a Petrobras. E é aqui que entra o factor irracional dos mercados, que acreditaram em Eike. E como não acreditar? O brasileiro confiante exalava sucesso. À fortuna rápida, Eike juntava a imagem de um bon vivant bem-sucedido. Foi casado com a antiga modelo da Playboy Luma de Oliveira, juntou-se depois à modelo Flávia Sampaio, sagrou-se campeão internacional de corridas com lanchas rápidas e era a alma de qualquer festa. Conta com Lula da Silva, Madonna e Neymar entre um extenso rol de amigos poderosos e foi um dos principais patrocinadores da candidatura do Rio de Janeiro à organização dos Jogos Olímpicos de 2016. O dinheiro atrai dinheiro, e Eike atraiu a banca internacional, fundos de investimento árabes e o próprio Estado brasileiro. Constituiu a petrolífera OGX, que colocou na bolsa de São Paulo com um estrondoso sucesso. Com as casas de crédito de portas escancaradas para Eike, o cinquentão de Minas Gerais arrecadou milhares de milhões de euros. Para a troca, o brasileiro vendeu um sonho: extrair diariamente cerca de um milhão de barris de petróleo do poço do Tubarão Azul. Vários analistas questionaram a sustentabilidade do império EBX. No entanto, estas vozes foram submersas por um inédito consenso nacional em torno de Eike. Do PT pós-comunista à direita conservadora, da elite paulista e ao favelado carioca, todos viram no milionário um exemplo da afirmação do Brasil. No mês passado, o país despertou com violência desse sonho. A OGX anunciou que o poço do Tubarão Azul não gera mais que 15.000 barris de petróleo por dia. Pior ainda, soube-se na semana passada, uma avaria reduziu a extracção para míseros 900 barris diários. A bolsa assiste agora a uma fuga de investidores das acções do grupo EBX e as dívidas de Eike crescem na proporção inversa à sua decrescente fortuna. O colapso da OGX é também investigado pelas autoridades brasileiras. O ex-bilionário é suspeito de uso de informação privilegiada por ter vendido um lote de acções antes da queda. A crise ganha ainda contornos políticos. Em Brasília, os gestores do BNDES, o banco de fomento estatal, são agora chamados a prestar esclarecimentos sobre os fundos públicos destruídos na OGX. Um eventual mas improvável resgate estatal do império EBX, cujo conselho de administração já incluiu vários ex-ministros, é tema de aceso debate. Depois de se aproximar demasiado do Sol, que usava como símbolo das suas empresas, Eike, qual Ícaro caído, admite erros. Numa carta aberta em que prometeu honrar os seus compromissos e pagar tudo o que deve, o brasileiro afirma que nunca devia ter colocado a OGX em bolsa e que teria sido preferível constituir um fundo privado. Mas afirma ser cedo para se reformar e promete voltar a “gerar riqueza”