Segundo o
Sol, há pelo menos 30 anos que os portugueses não cortavam tanto no consumo de
produtos básicos como leite, fruta ou pão. No primeiro semestre deste ano, a
compra de bens de grande consumo caiu 3,7%, mesmo que as idas às compras até
tenham tido uma ligeira subida de 0,3%, indicam dados da Kantar WorldPanel, que
analisa 4.000 lares de Portugal continental. De cada vez que os consumidores
foram ao supermercado, o volume de artigos postos no carrinho diminuiu 4,9%. “É
a primeira vez que temos uma queda desta magnitude no volume dos produtos de
grande consumo. Este é o sector que mais resiste à crise. Deve ser a quebra
mais acentuada dos últimos 20 ou 30 anos”, refere Paulo Caldeira, um dos
directores da consultora. Desde o final de 2011 que estas categorias de artigos
já davam sinais de quebra, mas nunca tão acentuada. Nas últimas décadas, os
bens de grande consumo até haviam ganho preponderância, com a diversificação da
oferta.
“Este já
é um ajuste muito importante das famílias. Não estamos a falar de comprar menos
roupa ou carros. Estamos a falar do que é básico, onde 84% é alimentação”,
reforça a outra directora, Sónia Antunes.
A análise
semestral da Kantar mostra que o consumidor português está em ‘modo de
sobrevivência’: compra o essencial, foca-se na alimentação, corre pelos
melhores preços e promoções, reduz stocks e gastos supérfluos. Por cada acto de
compra, a aquisição de azeite caiu 25,7%, a farinhas diminuiu 12%, a de pão
9,5%, e a de fruta 7,4%. Feitas as contas, a quebra do volume consumido em
Portugal já alcançou a da Grécia, cujo pico da queda do consumo destes bens
(-3,9%) aconteceu no segundo semestre de 2012. Na Irlanda, a maior redução foi
de 1,5%, no primeiro semestre de 2011, e a maior quebra em Espanha – que
actualmente já não está a perder volume nos bens de grande consumo – foi de
1,1%.