sexta-feira, maio 31, 2013

Opinião: "DESABAFOS (I)"



"Neste contexto difícil, compreensivelmente difícil, marcado já pelas eleições autárquicas de Setembro próximo, é normal haver quem ache, inclusivamente entre companheiros de partido, quem ache que, por vezes, me excedo nas críticas feitas ao governo de coligação de Lisboa, sobretudo às sua política e à teimosia lamentável que o leva a percorrer caminhos dolorosos para o nosso povo e que ninguém pode garantir seja o que for, porque ninguém é capaz de antecipar o que resultará de positivo de toda esta austeridade selvagem. Admito que essas opiniões críticas, que respeito, independentemente de concordar ou não com elas, podem ter mais a ver com a frequência dessas críticas do que pela lógica e pelo pragmatismo que as sustenta.
Quem me conhece sabe que não alinho em hipocrisias e que a minha opinião pessoal, obviamente que me pertence na totalidade, de cima abaixo. Podem discordar dela, podem inclusivamente achar que não devo expressá-la nos termos em que o faço, o que desde logo me poderá colocar perante a eventual necessidade de tomar decisões ou fazer escolhas. Mas não toldo a minha opinião em função de conjunturas ou de factores exógenos os quais, podendo ser importantes, sobretudo para quem não quer ver a realidade, não podem contudo constituir condicionantes de coisa nenhuma.
Por outro lado, as pessoas que me fazem o favor de ler, sabem do que estou falar, pois sanem que se mantive durante anos uma lógica de crítica opinativa, durante a vigência do anterior governo socialista de Sócrates – aliás, todos esses textos estão publicados, sendo por isso públicos – igualmente crítica, alicerçada numa realidade política, social, económica e orçamental que praticamente não mudou em nada apesar de termos hoje este governo de coligação no poleiro.
Percebo, e percebem as pessoas, que é difícil para o PSD regional, e de que maneira, tentar estabelecer uma pretensa linha de separação de uma cumplicidade política que, não existindo, não sei se será entendida assim tão facilmente pelos eleitores. Estamos a falar de um distanciamento crítico que repetidamente é reclamado na expectativa de distanciar os social-democratas regionais de linhas de orientação, opções ideológicas e programáticas e medidas governativas nacionais que estão a empobrecer o país e a causar uma frustração social generalizada que obviamente pode ter consequências. Ninguém pense que estes dois anos passarão impunes quando chegar essa hora da decisão e da escolha, pelo que recomendo que as pessoas, sem terem que ser pessimistas militantes, como por vezes me acusam, tenham também o bom senso de não embandeirarem em arco, em optimismos exagerados, porque convém que se preparem para todos os cenários, já que todos os cenários estão em cima da mesa. Não nos iludamos quanto a isso.
Não será que tudo aquilo que o PSD da Madeira repetidamente tem afirmado e reclamado, para vincar o seu distanciamento regional face à estrutura partidária nacional, não será o mesmo que repetem aos seus eleitores, nas freguesias, nos concelhos, nos distritos do Continente, todas as estruturas locais do PSD continental que se preparam para um combate eleitoral, claramente o mais difícil de todos - e sobre isso falaremos oportunamente - e se confrontam com o receio de um desaire eleitoral a uma escala impensável, influenciado pela irritação e pela revolta popular depois de dois anos de governação que se limitou a agravar todas as vertentes sociais do país, a impor a austeridade e a aplicar cortes nos salários e outros rendimentos? Falamos obviamente da mesma coisa.
No fundo, não foi isso que fizemos, durante a vigência dos anteriores governos do PS e de Sócrates, o tentar desmontar a estratégia dos socialistas locais, que apostou, para fins propagandísticos e eleitorais, numa alegada falsa "divergência" com Lisboa, construída à medida que as eleições regionais de 2007 se aproximavam e que era desmentida pelos factos e pelas decisões? Não podemos ser hipócritas nem achar que podemos andar a vaguear em função dos momentos, de conjunturas mais ou menos favoráveis, do que nos interessa ou não a cada momento e de interesses ou visões mais ou menos redutoras e que nada nos acontece. Os eleitores não são estúpidos.
Tal como o PS local fez, sem sucesso - pois era mais do que evidente essa impossibilidade – também não sei até que ponto a qualquer estrutura local, distrital, concelhia ou regional social-democrata, bastará dizer que não concorda com o que eles decidem ou fazem em Lisboa para que os eleitores o aceitem sem pestanejar. Refiro-me à perspectiva do que pensa o eleitorado no dia das eleições e do que é que influencia as suas decisões, mas sobre isso não posso opinar pois não tenho dados concretos e cientificamente comprovados por estudos de opinião credíveis.
Sei que o PSD regional não concorda e que se incomoda com o que se passa a nível nacional. Tenho a noção do impacto altamente negativo que toda esta política de austeridade sem fim à vista e que vem sendo implementada cegamente pela dupla Passos-Gaspar, também na Madeira e nos Açores, nas freguesias, nos municípios, etc causará. O problema não é discutir o que os partidos dizem de si próprios ou pensam, porque isso não é importante e vale zero. Fundamental, essa a essência das escolhas numa democracia, é saber o que pensam as pessoas, o que dizem os cidadãos mais penalizados pelas medidas tomadas nestes dois anos de austeridade, como reagirão quando tiverem nas mãos um boletim de voto que em democracia constitui a arma mais importante que uma pessoa tem ao seu dispor, já por via dele faz escolhas e influencia.
Tenho a certeza que não é pelo que escrevo, pela minha opinião pessoal, que o meu partido ganha ou perde eleições, tem mais ou menos votos. Também tenho a absoluta consciência que em nada contribuo nem para mais o valorizar nem para o prejudicar. Certamente que outros factores, refiro-me a situações mais concretas e conhecidas, a que se juntam constrangimentos sociais, financeiros, económicos, terão essa capacidade de influenciar mais decisivamente os eleitores. Mas não me peçam para aceitar que condicionem o meu pensamento e a minha opinião, como se fosse possível permitir que alguém entre em minha casa, pinte todas as paredes de preto e a minha reacção posterior seja apenas a de dizer que não o impedi porque preferi ficar sentado de sofá a assistir a tudo.
As pessoas sonham muitas vezes com o impensável. O PSD nacional parece que ainda não percebeu que uma parcela muito significativa do seu eleitorado, constituída pelos funcionários públicos e pelos cidadãos mais idosos, reformados e pensionistas, uns e outros alvos de perseguição fiscal, de roubo dos seus rendimentos, de ameaças de despedimento e de crescente insegurança laboral, no caso do funcionalismo público, se distanciará nas próximas eleições. Não seria masoquista acreditar que não o fizessem? Perante esta evidência, alguém de bom sendo acha que em política o masoquismo tem lugar? Desde quando se pode ter a ousadia de reclamar que esses funcionários públicos, pensionistas e reformados se esquecem de tudo o que lhes tem sido feito, obrigando-os a votar nos partidos que, directa ou indirectamente, são a face real desse descontentamento e frustração? Desde quando pais ou avós, confrontados com a frustração dos filhos ou netos, muitos deles licenciados e sem emprego, podem ficar satisfeitos, sobretudo quando percebemos que estamos a falar de famílias que investiram tudo, muitas delas esgotando as suas poupanças, outras endividando-se junto da banca ou de familiares, para garantirem a formação académica dos jovens e percebem o logro com o qual nos confrontados a que se junta a percepção de que se anunciam mais medidas que dificultarão ainda mais essa disponibilidade de empregos aos jovens? Lembro que estamos a falar de 40 por cento de jovens desempregados em Portugal num universo calculado em 1,3 milhões de desempregados, algo nunca antes visto na nossa história" (LFM-JM)