sexta-feira, março 15, 2013

Portugal, um paciente em estado “semi-comatoso”

Segundo o Jornal de Negócios, num texto do jornalista Rui Peres Jorge, "o ex-CEO do Barclays passou recentemente por Portugal e pela Argentina e faz hoje nas páginas do Financial Times uma análise negativa das prescrições anti-crise dos dois países.É uma história de pacientes sujeitos a várias prescrições médicas. O “paciente Fado”, em Lisboa, está sujeito a uma receita de "austeridade aditividada" com o objectivo de reduzir os seus desequilíbrios. Já, ao “paciente Tango”, com um longo historial médico, foi administrada uma dose significativa de “drogas económicas”, incluindo desvalorizações cambiais e reestruturações de dívida. A conclusão destas experiências? “Ambas são instrutivas – e desencorajantes”, escreve hoje no Financial Times, Martin Taylor, um ex-CEO do Barclays. Portugal é um país onde “tudo está à venda e ninguém está a comprar”. “O pobre paciente Fado, colocado sob um regime de austeridade aditivada, está semi-comatoso”, diz o homem que liderou o banco britânico nos anos 90, continuando depois para descrever: “O Estado gasta o mínimo que pode, e tenta extrair cada vez mais dos seus cidadãos, que parecem gastar grande parte do seu tempo a tentar descobrir como evitar pagar-lhe”. No meio desta tensão, os níveis de dívida, um dos problemas centrais a resolver, continuam “teimosamente elevados”, com “os dispendiosos médicos estrangeiros a acreditar que uma dose mais elevada do actual medicamento irá, no fim, provar que é a melhor resposta”, escreve. Taylor olha depois para a receita alternativa, aplicada ao “paciente Tango” que, na verdade, experimentou de tudo na última década, desde depreciações cambiais a reestruturações de dívida, passando por decisões administrativas que forçam os bancos a emprestar ao "investimento produtivo". A redução dos seus rácios de dívida é amplamente elogiada pelos médicos locais, mas nota o gestor que esta não convence os que ficaram sem o dinheiro, que aliás ainda hoje discutem em tribunal a reestruturação de há dez anos. Além disso, a Argentina é descrita como um paciente sujeito a “estímulos repetidos” que a tornaram “economicamente hiperactiva”, mas sem que isso signifique verdadeiro vigor económico: é um país que sofre com inflação alta, moeda fraca e pouco capacidade de atrair investimento externo.
O que pode Morris aprender com o Fado e o Tango?
Com toda esta análise, Taylor procura tirar lições para o seu país Natal, o Reino Unido – ou “o paciente Morris” – que tem moeda própria como a Argentina, está sujeito a um política de austeridade crescentemente contestada.“O caro Morris foi colocado numa versão da receita aplicada ao Fado, mas em menor dose. Ao contrário do Fado não está em estado semi-comatoso, mas também não está a recuperar. A tentação para passar para algo mais parecido com a terapia do Tango – sem o excesso pouco britânico do “default” – está claramente a crescer”, lê-se no artigo de opinião do Financial Times. Perante isto, o que deve ser Morris? Nem tanto Fado, nem tanto Tango, defende".