sexta-feira, março 15, 2013

Opinião: "A leitura da sondagem"

"Não sendo absolutamente surpreendente, a sondagem da Universidade Católica para o DN, o JN, a RTP e a Antena 1 revela que a maioria dos inquiridos, apesar da crise e contestação crescentes, não vislumbra na oposição uma alternativa às políticas que estão a ser executadas pelo Governo PSD/CDS. Talvez por isso mesmo as intenções de voto tenham como reflexo a manutenção do PS nos 31%, a subida do PSD em quatro pontos percentuais, cifrando-se a escassos 3% dos socialistas, e a queda acentuada das restantes forças políticas. O que mais surpreende neste estudo, como em todos os outros, é que, apesar de a economia estar de rastos, de o desemprego continuar a crescer de forma descontrolada, de o primeiro-ministro e de o ministro das Finanças insistirem que não há alternativa à lógica da austeridade do "custe o que custar", os resultados, grosso modo, revelem sempre a mesma realidade: não existe opção à alternância entre o PS e o PSD, com ou sem o apoio do CDS. E isto não pode deixar de nos interpelar, sobretudo se pensarmos nos exemplos recentes da Grécia ou da Itália. A verdade é que o confronto é - mesmo que com nuances - entre as vias europeístas dos partidos do arco da governabilidade e a rotura defendida pelo PCP e o Bloco de Esquerda. E, deste ponto de vista, não podemos deixar de nos dar por satisfeitos por vivermos numa democracia tranquila e madura. Porém, existe naturalmente um reverso desta medalha. É evidente que basta a emergência de um qualquer movimento marginal ao sistema para que toda a tranquilidade e maturidade da nossa democracia possa estar posta em causa. Basta saber ler os números: 77% dos inquiridos classificam negativamente a ação do Governo; 61% dos entrevistados consideram, no entanto, que nenhum partido da oposição faria melhor ou diferente; 50% dos que foram ouvidos acreditam que há "alternativas viáveis" ao rumo que está a ser seguido pelo Governo; mas 57% dos inquiridos não veem essas alternativas nos discursos dos partidos da oposição. O que isto revela é simples: as alternativas que o País aparentemente deseja estão fora do sistema" (editorial do DN de Lisboa, com a devida vénia)