sábado, março 16, 2013

Opinião: “Êxito chocante”

"O ministro das Finanças apresentou um conjunto de quadros e gráficos para ilustrar, com copiosa apresentação de números e explicações, os resultados do 7º. exame da troika ao programa de ajustamento português. Quando os cidadãos se aperceberem, trocado por miúdos, o que aí vem, é difícil imaginar outra reação que não seja de choque. A receita seguida vai ter de prosseguir - afirma Vítor Gaspar - por mais três anos para atingir plenamente os resultados pretendidos, ou seja, para alcançar uma situação orçamental controlada, que permita a descida progressiva da dívida pública. (Descida essa que, por sua vez, levará 25 anos a atingir a meta de, somente, 60% do PIB de dívida pública - dito pelo secretário de Estado do Orçamento!) Entretanto, a economia vai continuar a cair - ainda mais do que o Governo previa -, o que conduzirá a um aumento este ano de 115 mil desempregados. Somados aos existentes, teremos, em fins de 2013, um milhão e quarenta mil trabalhadores sem emprego. Isto se o Executivo acertar em cheio nesta negra previsão. Talvez seja mais sensato admitir que a realidade volta a ultrapassar a teoria.
A troika concordou que se tenha de estender por mais um ano o esforço de redução do défice das Administrações Públicas: em 2012, afinal, ele ter-se-á fixado nos 6,6% do PIB (em vez dos 5% acordados). E o facto de, neste ano, ele poder ir até aos 5,5% - e já não 4,5% - não significa mais folga na despesa. A austeridade continua. A folga conseguida vai ser comida em grande medida por um nível inferior de receita fiscal, degradada pela gravidade da recessão. Não foram anunciados cortes adicionais, mas os anteriormente decididos continuam em cima da mesa. Só serão efetuados de forma mais espaçada.
A esperança de dias melhores está, agora, agendada para 2014, com o relançamento das exportações, com o aumento do investimento (ao fim de seis anos de quedas sucessivas!) e com uma recuperação muito limitada do consumo das famílias. A redução do drama central, o desemprego, é que fica adiada para 2015, no melhor dos cenários. Isto é o que dizem os governantes de cá e da Europa. E os portugueses, terão energia e paciência para suportar as consequências do que lhes foi anunciado? (editorial do DN de Lisboa com a devida vénia)