quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Opinião: "FALHADO E FALHANÇOS"

"Confesso que já não me surpreendem nem incomodam minimamente os sistemáticos fracassos das previsões do ministro das finanças, personagem recrutada não se sabe bem onde, nem com que objetivos, mas que se tem revelado um dos maiores exemplos de incompetência, de falhanço e de impreparação de que há memória. Penso que não deve haver em Portugal nos últimos anos nenhum ministro das finanças que some tantos descalabros como ele, apesar de contar com o facilitismo absolutista da imposição arbitrária por decreto de austeridade sobre a austeridade falhada, para assim reunir os milhões e pagar aos seus amigalhaços da banca e do capitalismo europeu mais rafeiro.
Este ano, só em juros, serão 8 mil milhões de euros que os portugueses serão espoliados, melhor dizendo, que o ministro Gaspar vai roubar aos salários, às pensões e às reformas dos cidadãos, a que se juntam os enigmáticos cortes previstos em nome desse embuste que se chama "reforma do estado social", mas que na realidade, e atendendo à forma como o processo está a ser conduzido, perspetiva poder vir a tratar-se de mais uma patifaria.
Gaspar até parece estar agora, e perigosamente, com aspirações (ou com tiques) proto salazaristas pois tal como o símbolo maior do regime fascista português, propõe-se alterar o sistema político, quando a sua preocupação devia ser a de pedir desculpa aos portugueses pelos seus falhanços e pela eventual "desnecessidade" de toda a austeridade, pois a dívida continua a crescer perigosamente. E explicar aos cidadãos que as causas dos seus falhanços sucessivos na pasta que lhe diz respeito, a das finanças, não têm a ver apenas com a instabilidade da conjuntura europeia (que influência de facto, mas uma ínfima parte) mas sim com uma confrangedora incompetência e impreparação de um tecnocrata e funcionário da banca, realidade que devia ser assumida por ele assumida, com toda a honestidade. E nem vamos falar dos custos dessa incompetência para todos nós, nem tão pouco interrogar sobre para que serviu - ressalvando o pagamento de juros aos nossos "amigalhaços" - toda a austeridade imposta aos cidadãos nestes últimos dois anos, no que à estabilização das contas públicas diz respeito.
Gaspar em 2012 apresentou três orçamentos (dois retificativos) e em 2013 tudo indica que para lá caminha. Enganou-se em todas as previsões, revela-se um embuste, capaz de manipular, tudo para melhor "fundamentar" a justificação para as medidas tomadas. Os portugueses sentem-se usados, pior, sentem-se enganados por este símbolo da aldrabice mais primária. Trata os portugueses como cobaias; e o país como um laboratório de sucessivas experiências falhadas, decreta a austeridade por leis avulsas, umas atrás das outras; esconde acordos negociados secretamente (com a troika), mentindo descaradamente aos portugueses, acordos esses que depois se ficam a conhecer ao pormenor através pela comunicação social e graças a fugas de informação cirurgicamente organizadas e promovidas pelo próprio governo de coligação desesperado.
Parece-me que Gaspar tem uma perigosa visão fascizante e ultra neoliberal da sociedade e do modelo de funcionamento do Estado; parece-me também que é refém, por ideologia e formação, de uma perspetiva economicista radical da economia, da sociedade, do modelo social, das relações laborais e, e última instância, da própria economia; institucionaliza vergonhosos roubos aos cidadãos, por via de sistemáticos cortes dos salários, das pensões e das reformas mas não reduzem em nada a despesa do estado nem afastam vícios e interesses instalados à mesa do orçamento; aumenta impostos e recebe os aplausos de um Passos Coelho deslumbrado que se julga abusivamente salvador do país por encargo divino, ignorando que, ao invés disso, se transformou numa personagem insuportável e asquerosa aos olhos dos cidadãos.
O nosso problema é que um e outro são dois cinzentos, aparentemente sem princípios ideológicos consistentes e consolidados, para quem os portugueses são os culpados de tudo o que nos atormenta porque viveram acima das suas possibilidades (coitado do Passos Coelho que até só tem um Clio francês como pateticamente se gabava um dia destes ao congénere austríaco…). Para nossa infelicidade, estamos entregues, por enquanto a dois deslumbrados e impreparados, que nunca se viram e que de repente se veem, viajando pelos corredores europeus do poder, da finança, do capital, da especulação, etc, que aos poucos destrói a Europa. Duas personagens a quem parecer ter subido a vaidade do poder à cabeça, poder onde chegaram vá lá saber-se como - insisto: um dia vamos saber, temos que conhecer, toda a verdade desse tremendo embuste, dessa ligação entre as "diretas" manipuladas no PSD, a recusa do PEC IV, a queda do anterior governo socialista, a pressão da direita europeia para que Portugal pedisse ajuda externa, as causas dana manipulação dos mercados e dos "ratings" (e seus custos) e as eleições antecipadas portuguesas de Junho de 2011.
Somos vítimas da incompetência e da impreparação de governantes que chegaram ao governo sem experiência nenhuma e impreparados, pois nunca exerceram qualquer atividade executiva pública anterior. Ser deputado não é sinónimo de perfil de governante. Ser especialista em modelos macroeconómicos falhados ou em manipulação de folhas de excel com base em teorias que nada têm a ver com a realidade, não transforma ninguém num potencial ministro das finanças. Um andou perdido pelos gabinetes de bancos, saltitando de uma folha excel para outro modelo, com ampla experiência no falhanço de previsões e no logro, aliás como aconteceu já do tempo do ex-ministro das finanças Braga de Macedo. Outro limitou-se a trabalhar em empresas de amigalhaços onde nem era preciso um grande esforço de afirmação pessoal, até porque nos últimos anos andou mais empenhado no assalto ao poder do PSD do que em mostrar a sua competência empresarial neste percurso demasiado limitado para ser o que hoje é, politicamente falando.
Não quero com isto dizer que teoricamente não tenham razão nalguma coisa. Seria demasiado. Não quero ignorar que algumas das necessárias medidas de austeridade para impedir a degradação da situação, não fizeram sentido. Seria desonestidade da minha parte. O que contesto é a cegueira, a estranha teimosia em insistir num caminho que está a destruir o Portugal social, que aumenta o desemprego, paralisa a economia, aumenta os pobres, multiplica os excluídos e os cidadãs que passam privações e vivem da solidariedade, elevada as falências para níveis nunca antes vistos, destrói as famílias, penaliza os jovens, incentiva-os a emigrarem como se isso fosse uma opção natural (mesmo que a propaganda insista no insulto de vender a ideia de que a emigração é uma forma de valorização pessoal e profissional para assim tentar enganar os portugueses das verdadeiras causas dessa emigração forçada), que afasta milhares das saúde por não terem dinheiro para pagar, que aumenta o drama dos idosos cada e mais desesperados e dependentes, que promove a desistência do ensino superior por falta de recursos para pagar propinas, etc.
Quase arriscaria afirmar que o comportamento desta dupla Coelho-Gaspar tem motivações subjacente ideológicas, porque me parecem apostados no empobrecimento deliberado de Portugal, na perspetiva de que num país pobre e com cidadãos empobrecidos, se consume menos, se produzirá menos, se gasta menos, se importa menos, se deve menos, etc. Não quero acreditar que exista subjacente a isto uma vingança emocional por situações históricas passadas, nomeadamente os traumas da descolonização, numa espécie de ajuste de contas que se manteve vivo no subconsciente e que agora, por via da utilização abusiva do poder entretanto adquirido, está a ser posto em execução. Seria demasiado doentio para ser verdade" (LFM/JM)