sábado, dezembro 29, 2012

Opinião: “Com amigos assim”

“Pedro, o cidadão, escreveu ontem uma carta sentida aos portugueses, a quem chama "amigos", lamentando as perdas e sacrifícios a que Pedro, o primeiro-ministro, sujeitou os portugueses, os "contribuintes".
Pedro, o cidadão, admite que, no país em que Pedro também é primeiro-ministro, o Natal deste ano não foi um conto feliz. Houve famílias sem a consoada que mereciam, houve muitas mesas com ausências, houve pratos sem a fartura de outros tempos, houve filhos e netos sem os presentes que desejavam. E houve portugueses que acordaram no dia seguinte sem trabalho, de barriga vazia, a casa na bancarrota ou as malas feitas para emigrar. É por eles que Pedro reconhece que este não foi o Natal que merecíamos - tem razão.
Mas depois é por eles que termina a sua mensagem desejando aos amigos "festas felizes" - e é assim que se perde a razão. Esta, sim, foi a mensagem que os portugueses não mereciam. Em três curtos parágrafos deixados ontem no Facebook, numa espécie de mensagem intimista e solidária de alguém que, nitidamente, precisa de amigos, Pedro, o cidadão, reconhece o que já é óbvio para todos há muito tempo. Que este foi mais um dia num ano de sacrifício, que há portugueses que sofrem, que é preciso trocar o pesar pelo orgulho quando se encara um novo dia.
O que Pedro deixou fora desta carta é precisamente aquilo que os portugueses, os contribuintes, querem saber de Pedro, o primeiro-ministro: quando é que alivia a carga fiscal com que está a esmagar a classe média e os pensionistas, quando é que permite que as empresas criem condições para gerar emprego em vez de se asfixiarem em burocracias e impostos, quando é que garante que os talentos regressam em vez de os incentivar a partir para destinos onde fazem muito pela reputação de Portugal, mas pouco pela sua competitividade.
No dia em que Pedro, o primeiro-ministro, escrever uma carta a responder a todas as interrogações e a dar sinais reais de quando o país pode ter, de facto, um Natal melhor, os portugueses, cidadãos, assinam por baixo. Não é certamente com mensagens assim que Pedro faz amigos. Até porque os portugueses, nos últimos tempos, foram obrigados a ser menos piegas...” (texto de Helena Cristina Coelho, no Económico com a devida vénia)