domingo, julho 22, 2012

Estrutura dos bombeiros e da Proteção Civil “tem que ser refundada”

Escreve o jornalista da RTP, Carlos Santos Neves, que "quatro dias de chamas na Serra do Caldeirão reacenderam a troca de argumentos e acusações entre autarcas, bombeiros e técnicos de Proteção Civil sobre as estratégias de resposta aos fogos florestais. Dominado o incêndio que lavrou entre os concelhos de Tavira e São Brás de Alportel, as críticas do poder local recaíram uma vez mais na coordenação do combate. Críticas sem eco no comando operacional, que assinala as dificuldades levantadas pelo terreno e pelo clima. Já o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Soares, considera que “toda” a estrutura deve ser “refundada”. E insiste que o país “está há cerca de 20 anos sem qualquer prevenção da floresta”. Para Jaime Soares, se a coordenação do combate às chamas dos últimos dias falhou, a culpa não pode ser atribuída aos bombeiros. É à Autoridade Nacional de Proteção Civil que devem ser apontadas eventuais responsabilidades, na opinião do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. “Há situações que efetivamente aparentam algum desnorte. Mas, na minha opinião, esse desnorte não pode em circunstância alguma ser dirigido aos bombeiros. Os bombeiros vão a chamamento das estruturas, deste caso da Autoridade Nacional de Proteção Civil. Agora, se porventura a estratégia não foi correta, assaquem-na a quem tem essa responsabilidade e essa responsabilidade só pode ser assacada, se é que existiu, ao presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, ao comandante nacional operacional, que esses é que têm de dar as respostas do que é que falhou”, sustentou na noite de sábado Jaime Soares, entrevistado no Grande Jornal da RTP Informação. Jaime Soares encontra nos acontecimentos dos últimos dias no Algarve mais uma justificação para repensar o modo como está organizado o dispositivo de combate a incêndios florestais: “É que a estrutura dos bombeiros em Portugal, da Autoridade Nacional de Proteção Civil, tem que ser toda reanalisada, eu diria refundada. Porque no passado, com outro tipo de intervenção, com outro tipo de planeamento, com outro tipo de protagonistas ou atores no terreno, as coisas eram diferentes. Eram diferentes e até poderei garantir que os custos de intervenção ficavam muito aquém do que atualmente efetivamente se gasta”. Por outro lado, enfatizou Jaime Soares, que é também presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares, eleito pelo PSD, o país “está há cerca de 20 anos sem qualquer prevenção da floresta”. “Os vários governos deixaram de estar preocupados com a prevenção, o planeamento, o ordenamento da floresta. Continuamos a fazer floresta com espécies de há mais de 300 anos atrás. Efetivamente já se viu que, atendendo às condições climatéricas, de todas as situações meteorológicas, temos que preparar uma floresta diferente. Os eucaliptos e os pinheiros não votam, não vão à urna fazer o votozinho. Porque se eles votassem tenho a certeza de que muita gente estava muito mais preocupada com este tipo de defesa da floresta”, censurou
“Algo falhou”
O incêndio da Serra do Caldeirão está dado como controlado. Ainda assim, perto de 600 operacionais mantinham-se este domingo no terreno para assegurar as operações de rescaldo e prevenir quaisquer reacendimentos. “Complexidade”Confrontado com as críticas dos autarcas algarvios, o comandante nacional da Proteção Civil escusou-se a fazer uma avaliação das operações de combate ao incêndio na Serra do Caldeirão. Pelo menos por agora. “No final veremos se houve coordenação ou se não houve coordenação durante a situação de emergência. Se alguém proferiu essas declarações, não tenho qualquer comentário a fazer”, reagiu Vítor Vaz Pinto, citado pela agência Lusa. Vaz Pinto manifestou ainda total confiança no dispositivo, embora reconheça que os meios possam não ter chegado atempadamente a alguns locais. O comandante adiantou que um técnico florestal lhe indicou no sábado que, no espaço de duas horas, o incêndio consumiu sete mil hectares: “Nunca assisti a um fenómeno destes. Não me recordo de ter acontecido uma situação de tanta complexidade e já ando nisto há alguns anos”.
“Esta operação teve os meios adequados. Foi uma operação muito complexa. Os combatentes andaram sempre atrás dos incêndios e só ontem é que foi possível uma janela de oportunidade para colocar os meios à frente dos incêndios. O principal objetivo é salvaguardar a vida das pessoas e até ao momento foi conseguido, pois não há vítimas a lamentar”, advogou. Estima-se que as chamas tenham queimado mais de 20 mil hectares daquela região algarvia. Só no concelho de São Brás de Alportel arderam pelo menos dez casas – em Mesquita, Arimbo, Barranco da Figueira e Cabeça do Velho. Em Tavira terão ardido outras quatro. Ao fim da tarde de sábado, o presidente da Câmara de São Brás de Alportel queixava-se de falhas na coordenação do combate às chamas. António Eusébio afirmou mesmo à reportagem da RTP no local que os meios não foram destacados a tempo. “Na minha opinião, na quinta-feira algo falhou. Algo falhou porque durante toda a tarde de quinta-feira o fogo aproximou-se destas povoações e não chegaram meios atempadamente. O fogo chegou primeiro e as pessoas acabam por estar indignadas. Têm um sentimento de indignação. Porque é que isso aconteceu? Especialmente em Parizes e Cabeça do Velho. É difícil de explicar. Eu sei que o cenário é complexo em serra e que o fogo com grande velocidade se propaga, num mato também difícil, mas possivelmente houve falta de meios, que não chegaram atempadamente a São Brás de Alportel”, estimou o autarca socialista. Horas antes, já o vice-presidente da autarquia de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, e o presidente da Câmara Municipal de Tavira, Jorge Botelho, haviam questionado as opções estratégicas do comando da Proteção Civil. Em direto para a edição de sábado do Jornal da Tarde, o coronel José Codeço, segundo comandante nacional da Proteção Civil, defender-se-ia das críticas com o argumento de que foi necessário avaliar as condições no terreno: “Obviamente há que definir uma estratégia, depois há que executar a manobra tática e depois há que avaliar. Isto demora tempo. Há que posicionar as forças no terreno”.Também ouvido pela RTP, o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil (AsproCivil), Ricardo Ribeiro, apontou o dedo ao poder local, depois de considerar, tal como Jaime Soares, que Portugal não tem uma política de prevenção de incêndios. “Eu não tenho notícia de que alguma câmara, no país, tenha feito a limpeza coerciva, nos termos da lei a que está obrigada, de mato e de zonas verdes e de quintais e que tenha obrigado, por exemplo, os proprietários a fazerem a zona de proteção de 50 metros à volta das moradias”, salientou.
“Complexidade”
Confrontado com as críticas dos autarcas algarvios, o comandante nacional da Proteção Civil escusou-se a fazer uma avaliação das operações de combate ao incêndio na Serra do Caldeirão. Pelo menos por agora. “No final veremos se houve coordenação ou se não houve coordenação durante a situação de emergência. Se alguém proferiu essas declarações, não tenho qualquer comentário a fazer”, reagiu Vítor Vaz Pinto, citado pela agência Lusa. Vaz Pinto manifestou ainda total confiança no dispositivo, embora reconheça que os meios possam não ter chegado atempadamente a alguns locais. O comandante adiantou que um técnico florestal lhe indicou no sábado que, no espaço de duas horas, o incêndio consumiu sete mil hectares: “Nunca assisti a um fenómeno destes. Não me recordo de ter acontecido uma situação de tanta complexidade e já ando nisto há alguns anos”. “Esta operação teve os meios adequados. Foi uma operação muito complexa. Os combatentes andaram sempre atrás dos incêndios e só ontem é que foi possível uma janela de oportunidade para colocar os meios à frente dos incêndios. O principal objetivo é salvaguardar a vida das pessoas e até ao momento foi conseguido, pois não há vítimas a lamentar”, advogou".

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