terça-feira, fevereiro 21, 2012

Lembrando (III)

"Tal como ontem referi, a situação do desporto regional, nesta fase de transição, implica que olhemos com pragmatismo para alguns problemas mais prementes que neste momento conturbado se colocam às equipas madeirenses, particularmente as que disputam provas nacionais. Pagamentos de salários e viagens parecem ser, até que tudo esteja resolvido no quadro da nova política desportiva regional, os aspectos que requerem mais atenção. Sendo certo - e as pessoas devem começar a interiorizar essa realidade em vez de raciocinarem como se tudo continuasse na mesa, o que é impossível de acontecer – que nada mais vai continuar como no passado.
Sabendo-se, e presumo que não estou a dizer nenhum enormidade, pese o silêncio que vem caracterizando este processo, e que em nada ajuda as pessoas que estão angustiadas e à espera de respostas concretas, que antes de Abril dificilmente a região disporá de condições financeiras para resolver todos os seus problemas, sendo certo que o Ministério das Finanças (a mando da troika) vai monitorizar todas as medidas que precisam ser tomadas na Região no quadro do novo acordo financeiro e sabendo-se também que a proposta de orçamento regional para 2012, que entrará no parlamento regional em 2 de Março, com discussão prevista para duas semanas depois, julgo que seria possível negociar-se alguma solução transitória que evite uma agonia que ameaça sufocar o desporto e colocar em causa, com uma simples cacetada, toda a política desportiva regional até hoje seguida. Não podemos ter mais dirigentes desportivos regionais a pagarem do seu bolso ou com recurso a cartão Visa as viagens dos atletas para que as suas equipas não sejam excluídas das provas nacionais, saindo claramente pela “porta do cavalo”, sem que tenham sido excluídas por razões desportivas. A verdade é que no actual estado de coisas, não existem alternativas. Tal como não há cartões Visa que aguentem muito mais despesas de alguns milhares de euros.
Quando se fala num novo ciclo ou numa pequena revolução, não estamos, como é evidente, a julgar o passado. As medidas foram tomadas, as prioridades foram estabelecidas, os apoios atribuídos, não há forma de voltarmos atrás. Nem faria sentido. Hoje, mais do que olhar para trás, é preciso olhar em frente mas resolvendo as situações que se coloca no presente. Sabemos todos que os dirigentes dos clubes – e não falo apenas no futebol, mas alargo a todas as demais modalidades – estão completamente mergulhados numa agonia colectiva que começa a colocar em causa as suas próprias vidas pessoas. Ora acho que não é justo que isso aconteça. As pessoas assumiram responsabilidades dirigentes, bem ou mal traçaram metas desportivas e estabeleceram opções em função dos orçamentos que foram negociados, pelo que esta situação hoje acarreta dificuldades que ameaçam as equipas e provavelmente vão originar uma onda de demissões dos dirigentes regionais, não sendo fácil, pelas situações entretanto ocorridas, encontrar substituições. Termo que no final desta época se crie um tremendo vazio no dirigismo desportivo regional, ao nível de todas as colectividades madeirenses, e que as eleições que serão marcadas venham a ser sucessivamente adiadas por falta de candidatos.
Continuo, e nisso sou muito pragmático, a achar que mais importante, por exemplo, do que discutir o que vai acontecer com o Estádio dos Barreiros, é mais importante e fundamental saber se se as infra-estruturas desportivas funcionam, se há dinheiro para pagar os custos com a sua manutenção, se as nossas crianças e os jovens têm água quente nos balneários, se a saúde tem os recursos essenciais para corresponder a um acentuado aumento da procura ou se as escolas funcionam com todos os recursos necessários, incluindo propiciar refeições aos alunos e ter dinheiro para comprar coisas banais. Já o disse aqui, insisto neste meu ponto de vista. Mas para além disso, há aspectos que precisam de decisões no momento adequado.
Até que ponto – e esta é apenas uma sugestão que me ocorre neste momento – não seria possível ao Governo Regional, depois de colocar a questão a Lisboa, negociar com uma instituição de crédito em concreto um fundo financeiro específico para garantir os pagamentos mais urgentes, alargando-os aos sectores da saúde e da educação? Penso que a ser possível esse entendimento, que passaria sempre por compromissos negociados, poder-se-ia permitir que esta situação de angustiante agonia não se protelasse por muito mais tempo. Obviamente que estamos a falar de compromissos que julgo terem sido inventariados pela Secretaria Regional das Finanças e enviados para Lisboa, conforme esclarece o programa financeiro, para serem depois reconfirmadas por uma entidade externa à região, seguindo-se a elaboração de um relatório, a concluir até final de Março. Só depois disso a Madeira poderá ter acesso aos recursos financeiros que aliviarão uma situação complexa e que nunca imaginei, reconheço, pudesse chegar aonde chegou. Não creio que Lisboa fique insensível à urgência destas medidas, ainda por cima quando a região funciona (?) em regime de duodécimos até aprovação do seu orçamento. Mas para que isso aconteça, para que se comece a tranquilizar a vida regional – há demasiada instabilidade, demasiada dúvida, demasiada angustia – obviamente que os dois governos precisam dialogar numa base construtiva e seria. Não estamos a falar de mais despesismo, estamos a falar de pagamento de dívidas a instituições que precisam responder minimamente ao que delas se espera, as farmácias, a saúde, as escolas e os clubes.
A economia regional certamente que a partir de Abril vai reanimar. Mas pagando por exemplo o que é devido aos clubes, dando condições para que a saúde e a educação possam funcionar minimamente sem as situações extremas que hoje acontecem, a economia regional acabará indirectamente por beneficiar, porque serão recursos financeiros que nela serão derramados" (JM, 21 de Fevereiro)

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