sexta-feira, junho 24, 2011

Ciberjornalistas são vistos como "jornalistas de segunda"

Li no DN de Lisboa que "o ciberjornalismo em Portugal tem sido visto de forma conservadora pelas empresas e pela própria classe, um dos motivos pelos quais ainda não se descobriu a "fórmula mágica" de o financiar, defende o docente Helder Bastos. Professor do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, Helder Bastos acaba de publicar o livro "Ciberjornalistas em Portugal: Práticas, Papéis e Ética", obra que resultou da primeira tese de doutoramento sobre ciberjornalismo defendida em Portugal. O objectivo do trabalho passa por perceber como trabalham em Portugal profissionais de alguns dos principais órgãos de comunicação social e explicar "uma certa limitação no desenvolvimento" do ciberjornalismo no país. "Não se foi mais longe no ciberjornalismo [em Portugal] porque historicamente o contexto nunca foi favorável a grandes investimentos no 'online'", diz Helder Bastos, apontando a viragem do século XX para o XXI como um período de exceção, de "alguma febre e ambiente favorável a investimentos na área", em concreto em órgãos exclusivamente virtuais como o Diário Digital ou o Portugal Diário. A primeira década do século XXI, no entanto, foi de "pouca progressão e aposta" no ciberjornalismo, pontuada por "muita cautela e receio". "As empresas nunca investiram de forma decidida", sustenta o docente e especialista de media, reconhecendo que este é um "problema não exclusivo de Portugal". O que espera o jornalismo nos próximos tempos "são dias difíceis, quer para empresários quer para a classe jornalística", embora Helder Bastos aplaudan o "posicionamento em relação ao futuro" dos grupos de media nos últimos anos, nomeadamente por via de investimentos em novas plataformas de distribuição como os 'smartphones' e os 'tablet' PC. "As empresas começaram a posicionar-se investindo mais vincadamente na distribuição multiplataforma", diz, apontando que a "estratégia é atacar em todas as frentes" mas admitindo desconhecer se tal por si só garantirá "o futuro das empresas jornalísticas". Helder Bastos declara ser necessário investir mais na formação de quadros, na investigação própria dos órgãos e no "estimular da criação de fontes próprias" dos jornalistas, cenário que diz ser "particularmente desfavorável" no ciberjornalismo, onde muitas vezes os profissionais são vistos como "jornalistas de segunda" e têm "muito pouco tempo e espaço" para a criação de agendas próprias. "Ciberjornalistas em Portugal: Práticas, Papéis e Ética", título editado pela Livros Horizonte, apresenta os resultados de um inquérito a 67 profissionais de órgãos como o Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Publico.pt, Diário Digital, Portugal Diário, Expresso, Visão Online, SIC Online, TSF Online, Rádio Renascença, RDP, RTP e TVI. Hélder Bastos é docente na Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade do Porto desde a sua criação, em 2000. Como jornalista, profissão que exerceu entre 1988 e 2003, trabalhou no Jornal de Notícias, Rádio Press e Diário de Notícias”.

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