terça-feira, novembro 30, 2010

Indoneidade no Hospital: "processo vai deixar feridas" (José França)

"Jornal da Madeira – O Conselho Médico da Região Autónoma da Madeira cortou relações com a estrutura nacional, por ser ultrapassado pelo bastonário na questão da recusa de novos internatos no Hospital. Essa situação mantém-se?
José França – Relativamente às relações cortadas, institucionalmente não poderei cortar relações. Seria como uma secretaria cortar com o seu próprio governo. Mas, pessoalmente, estou de relações cortadas, porque fomos completamente ultrapassados. Foi uma tomada de posição unilateral do bastonário, sem ouvir o Conselho Médico, ainda por cima um conselho médico que foi eleito democraticamente há três anos com os votos dos médicos madeirenses. Achamos que não foi uma atitude correcta. Antes de chegar a uma decisão tão drástica, acho que ele devia ter vindo cá averiguar, falar connosco, para então tomar alguma decisão. Mas, penso que a decisão nunca deveria ser esta, porque, ao fim e ao cabo, estamos a atingir o elo mais fraco, ou seja, as pessoas com menor capacidade reivindicativa e que esperaram tanto para serem médicos, para enveredarem por uma especialidade.
JM – Acredita na resolução deste problema?
JF – Se for eleito, e mesmo ainda antes disso, porque ainda cá estarei até meados de Janeiro/Fevereiro (normalmente os conselhos médicos tomam posse em Fevereiro), vou me empenhar. Sendo ou não eleito, vou trabalhar até ao fim, até ao último dia em que estiver nesta casa como dirigente e espero resolver a situação, ou pelo menos encaminhá-la para a sua resolução na plenitude.
Idoneidade é prioridade dos candidatos
JM – E como poderá resolver a situação?
JF – Já falei com os candidatos a bastonário (um dos quais será eleito agora em Dezembro) e prometeram-me que será uma das prioridades do início do seu mandato resolver a situação, porque esta Região bem necessita.
JM – Isso será em Janeiro/Fevereiro. Ainda iremos a tempo?
JF – Vamos a tempo de sarar a ferida, mas não vamos a tempo de curar a cicatriz. Vão ficar algumas cicatrizes, porque alguns internos poderão voltar para a Região, mas outros não vão querer, porque algumas vagas poderão ser escolhidas por colegas do Continente e, provavelmente, não quererão vir para cá fazer a sua formação.
JM – Assim sendo, a idoneidade formativa ainda poderá ser restabelecida durante o ano de 2011?
JF – Tem de ser. O bastonário suspendeu a idoneidade formativa, mas não pode retirá-la. O órgão soberano para retirar são os colégios das especialidades, e tudo farei para que os mesmos venham cá e façam os seus relatórios dos respectivos serviços, para ser novamente dada a idoneidade, que não foi retirada, mas sim suspensa.
JM – Mas os colégios das especialidades deram o parecer favorável à continuidade da formação...
JF – Até agora, sim.
JM – É por isso que não se compreende como o bastonário toma esta decisão?
JF – Exactamente. Isso foi uma decisão dele. Mas isto vai ficar resolvido. Até meados do ano, e se eu continuar aqui, não faço outra coisa enquanto isto não ficar resolvido.
JM – Está convicto que a idoneidade formativa vai voltar em 2011 ao Hospital?
JF – Tenho a certeza. Só não vão ficar com idoneidade os eventuais serviços que os colegas da especialidade achem que não têm condições para tal. Mas isso nunca é uma decisão na totalidade. Normalmente, dão um prazo para que as diferentes especialidades se adaptem e cumpram aquilo que os colégios normalmente exigem para que tenham idoneidade formativa.
JM- Esta é a sua bandeira, quer enquanto actual presidente, quer como candidato?
JF- Foi uma promessa que fiz aos colegas mais novos. Mexeram com os meus colegas mais novos, que eu represento, e são esses que eu vou defender neste momento, porque são aqueles que mais precisam.
Processo vai deixar cicatrizes
JM – Disse que ainda iam ficar cicatrizes deste problema. Que cicatrizes são essas?
JF – Infelizmente, as vagas que tinham abertas não vão ser todas ocupadas por pessoas que queriam cá ficar. Muitos colegas vão escolher a vaga de cá, mas vão fazer a formação lá e provavelmente já não vão voltar. Espero que isso esteja resolvido na plenitude no próximo internato, que vai iniciar em 2012, para os colegas do Ano Comum e do Complementar.
JM – Ainda assim, isso terá consequências para a Saúde na Região?
JF – Espero que sejam colmatadas a partir do próximo ano e que, ao longo do tempo, se vá diluindo esta tomada de decisão e as suas repercussões, e que, nos próximos anos, consigamos recuperar aquilo que perdemos este ano.
JM – Os colégios deram parecer favorável à formação. Como é possível que o bastonário possa suspendê-la?
JF – Ele suspendeu até aos colégios da especialidade virem. Portanto, vou-me empenhar para que todos os colégios das especialidades, com a anuência do próximo bastonário – já que este foi irredutível – venham cá o mais rapidamente tirar as suas conclusões, para assim voltar tudo à normalidade.
JM – Assim que o próximo bastonário tome posse, já poderá decidir nesse sentido e enviar para cá os colégios das especialidades?
JF – Já. O bastonário toma posse antes dos conselhos médicos. É ele que lhes dá posse. Por isso, mal tome posse, pode tomar esta decisão.
JM – Se esta situação não se tivesse verificado, quando teria início a formação?
JF – Seria em Janeiro.
JM – Portanto, está convencido que o que vai acontecer é ficarmos com alguns meses de atraso?
JF – Relativamente à normalidade, sim.
JM – Entretanto, o SESARAM já anunciou a contratação de um advogado, com o intuito de repor a normalidade. Como vê esse facto?
JF – Não gosto de falar de Justiça, mas, infelizmente, aquilo que vejo é que a Justiça é morosa. Eu acho que tenho de ser prático. Não posso pensar daqui a três ou quatro anos, quando o poder judicial tomar uma decisão. Quero que as coisas sejam resolvidas não a médio, mas a curto prazo. Se pensarmos em vias judiciais, será para ver quem teve e quem não teve razão neste processo. Eu, como médico, quero é que as coisas voltem à normalidade relativamente aos médicos da Região. Aquilo que prometi aos médicos internos é que continuarei a trabalhar para que tudo volte à normalidade.
JM – Como vê a questão que envolve os ortopedistas do Hospital do Funchal?
JF – A greve é das estruturas sindicais. Sei, superficialmente, por aquilo que ouvi na conferência de imprensa, as razões que levaram os ortopedistas a tomar essa decisão. A minha opinião vou guardar para mim. Fico triste, porque se alguém faz greve é porque está insatisfeito.
JM – Esta situação prejudicou muito os utentes?
JF – Isto prejudica o funcionamento de um serviço tão importante e fulcral num hospital, que é o Serviço de Ortopedia, e prejudica os utentes, porque foram consultas e cirurgias que não foram feitas. Mas, também sou capaz de compreender, se me explicarem bem, a razão pela qual fizeram a greve
" (Fonte: Jornal da Madeira) Nota: recomendo a leitura desta entrevista, para que ao menos alguns comentadores (?) o que realmente se passa com a questão
da idoneidade (internatos/ano comum, etc), em vez de andarem a comentar com uma prosápia toda assuntos que não conhecem, metendo água e misturando alhos com bugalhos.

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