sexta-feira, julho 30, 2010

Opinião: "A culpa da crise não é só dos bancos"

"Stephen Hester, CEO do Royal Bank of Scotland, defende que a culpa pela crise financeira global que se está a sentir não poderá ser atribuída apenas aos bancos, mas deve sim, ser partilhada também pelos governos, consumidores e investidores. "Por todo lado, a todos serviu que os consumidores pudessem consumir mais, que os preços das habitações subissem, que os gastos públicos aumentassem, suportados por receitas tributárias flutuantes", alegou Hester, numa conferência organizada pela Associação de Banqueiros Britânicos. "Aos países serviu serem capazes de ter grandes défices comerciais, e aos investidores pareceu-lhes fantástico verem os valores dos seus activos subirem. Ninguém quis acabar com a 'festa'. Reformar os bancos é necessário mas não chega", defendeu o banqueiro. Segundo avança a Bloomberg, as políticas de reestruturação dos bancos e de fortalecimentos dos mesmos - de que os testes de "stress" são o mais recente exemplo - são apontadas como, de facto, necessárias, mas não devem fazer com que a causa da crise global se resuma ao comportamento dos bancos. No entender de Hester, o problema não é conjuntural, na medida em que se resume apenas ao sistema financeiro, mas estrutural, uma vez que os bancos são o espelho da sociedade em que operam, e a mudança da forma como estes operam não vai evitar que novas crises se repitam.
Stephen Hester defendeu igualmente que compete aos bancos combater os mitos que a crise global fez nascer. O mito de que os bancos não estão a conseguir conceder crédito tem de ser combatido, e o banco a que Hester preside tem-no feito (o Royal Bank of Scotland beneficiou do maior resgate a nível mundial). No último ano concedeu quase 40 mil milhões de libras (48 mil milhões de euros) em novos empréstimos. Hester condena igualmente o "mito" de que os bancos não têm interesse em conceder créditos a pequenas empresas. Recorde-se que ontem, Ben Bernanke, Presidente da Reserva Federal norte-americana apelou a que não seja vedado às pequenas empresas o acesso ao financiamento. No entender de Stephen Hester, a redução dos financiamentos a pequenas empresas decorre igualmente de uma diminuição de procura de financiamento por parte dessas empresas. "Empresas, desconfiadas da procura pelos seus bens e serviços, e cientes de que o montante da sua dívida aos bancos nos últimos anos era demasiado alto, estão agora a procurar reduzir esse risco financeiro", concluiu Stephen Hester
" (por
Francisco Cardoso Pinto, do Jornal de Negócios, com a devida vénia)

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