sexta-feira, outubro 30, 2009

Corruptos e roubalheira sem vergonha (VI)

Vara e Penedos são os primeiros. Vêm aí mais arguidos, diz PJ

Segundo a jornalista do jornal I, Inês Cardoso, "a operação "Face Oculta" termina com 13 arguidos, mas o maior caso de corrupção envolvendo gestores de empresas públicas não deverá ficar por aqui. Os indícios colhidos não excluem que venham a ser implicadas mais pessoas no alegado esquema de favorecimento das empresas do grupo O2, do empresário Manuel Godinho. Armando Vara e José Penedos, dois antigos governantes da equipa de Guterres, foram envolvidos num processo cujas ramificações estão a ser investigadas há um ano. Incontactável durante todo o dia de ontem, Armando Vara confirmou ter sido constituído arguido numa nota enviada aos colaboradores do BCP (ver texto ao lado). Em Madrid até final do dia de ontem, José Penedos disse desconhecer a investigação conduzida pela Polícia Judiciária de Aveiro e não tinha sido contactado, mas fonte ligada ao processo confirma ao i a existência de indícios contra o presidente da REN, que seria discretamente notificado depois de regressar a Portugal. A REN é a empresa apontada como estando no centro de uma teia de tráfico de influências do grupo O2 - Tratamentos e Limpezas Ambientais. O empresário Manuel Godinho, detido preventivamente e que amanhã será ouvido por um juiz, é acusado de ter criado contactos em cerca de dez empresas, graças aos quais conhecia antecipadamente pormenores de concursos públicos. A Polícia Judiciária documentou pagamentos em dinheiro e registou contactos em que eram exigidas contrapartidas, como viaturas de alta cilindrada. Estão envolvidos gestores e altos quadros de empresas de capital público, mas também funcionários intermédios que tinham acesso a informação relevante. O processo que acompanhou os mandados de busca, citado pela RTP, aponta pormenores sobre o esquema e comissões pagas aos gestores envolvidos, assim como encontros e telefonemas comprometedores para Armando Vara e Paulo Penedos, filho de José Penedos e advogado da empresa SCI, do grupo O2. O primeiro seria aliciado a utilizar a sua influência política junto dos gestores, havendo contactos com referência a contrapartidas de dez mil euros. Os investigadores registam sucessivos almoços mantidos a partir de Fevereiro entre o ex-ministro, durante longos anos amigo próximo de José Sócrates, e o empresário. Quanto a Paulo Penedos, há diversos contactos citados no processo. A 5 de Fevereiro deste ano, em conversa com Manuel Godinho, terá feito referências a um montante de 25 mil euros pela influência movida. Pouco tempo depois o empresário ofereceu ao advogado contrapartidas de 270 mil euros "com o propósito de, através do poder de decisão de José Penedos", conseguir "a renovação do contrato de gestão global dos resíduos produzidos pela REN". A força da teia estendida sobre as empresas com capital público é tal que lhe são imputadas tentativas de afastar gestores que não quisessem alinhar no esquema. Em Março, Paulo Penedos e Manuel Godinho são acusados de discutir a eventual destituição do presidente da Refer - empresa que apresentou queixas contra a O2 e mantém no Supremo Tribunal de Justiça um processo por alegado furto de material na Linha do Tua. Um mês depois, Manuel Godinho recebe indicações de que a saída do presidente da Refer, Luís Pardal, "está complicada, fruto da protecção" da secretária de Estado dos Transportes. Transparência Contactado pelo i, José Penedos assegurou estar "completamente tranquilo" e sublinhou que os contratos da REN são "todos auditáveis", estando disponíveis para consulta pelas autoridades. "A REN respeita as regras da contratação pública e fá-lo-á enquanto eu estiver na empresa", afirmou. Quanto às suspeitas que envolvem o filho, não quis tecer comentários: "O meu filho tem 40 anos e faz a carreira dele." Anteontem Paulo Penedos tinha assegurado que a condição de arguido decorreu do facto de ter invocado sigilo profissional sobre documentos apreendidos. Os pormenores dos mandados de busca apontam, contudo, para profundo conhecimento e envolvimento nos factos. Segundo o seu advogado, Ricardo Sá Fernandes, já foi agendado o primeiro interrogatório, "mas não acontecerá nos próximos dias". Sá Fernandes acompanhou as buscas realizadas à casa de Paulo Penedos e ao seu gabinete na PT, empresa a quem presta consultoria jurídica. Embora sem a notoriedade do pai, Paulo Penedos tem também um percurso político ligado ao PS. Em Janeiro de 2002 apresentou uma moção de candidatura a secretário-geral do partido, na corrida que viria a ser ganha por Ferro Rodrigues. No ano anterior tinha-se candidatado à autarquia de Vila Nova de Poiares, contra o histórico Jaime Marta Soares. Perdeu mas ficou na vereação, acabando três anos depois por ver retirada a confiança política das estruturas concelhias do PS".

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