domingo, junho 28, 2009

A negociata da PRISA

(fotos de Alberto Frias do Expresso)

Para que as pessoas entendam os mistérios desta negociata da PRISA com a TVI e com o goevrno socialista a meio, entaladíssimo, recomendo alguns tectos e/ou notícias:
- História política de um negócio que não chegou a sê-lo - E ao terceiro dia Sócrates deu a mão à palmatória. A intervenção de Cavaco foi o factor decisivo, estancar a polémica a razão principal. Chegou de mansinho, levantando uma brisa que rapidamente se transformou num vento supersónico a ameaçar destruir tudo em redor. Apanhado no olho do furacão (onde a tempestade é mais calma), José Sócrates começou por o ignorar. Até que deixou de ser possível. O que se passou entre quinta-feira à noite — quando o presidente da PT garante na RTP que as negociações com a Prisa se mantêm — e sexta de manhã — quando o primeiro-ministro anuncia o veto do Estado ao negócio? “Avaliação política”, explica São Bento. Perante a polémica “havia que pesar politicamente os prós e os contras”. E os contras eram já demasiados, depois de dois dias de controvérsia em crescendo, com a (inédita) intervenção do Presidente da República a dar dimensão acrescida a um negócio nessa altura já com tudo para falhar. Uma “fuga de informação” (a expressão é de Zeinal Bava, que a repetiu várias vezes na entrevista a Judite de Sousa) leva à publicação, na terça-feira, no diário “I”, da intenção da PT em comprar os 30% da Prisa no capital da TVI. No dia seguinte, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro, o CDS pede explicações ao primeiro-ministro, que é cabal na resposta a Diogo Feio: “O Governo não dá orientações nem recebeu qualquer tipo de informação sobre negócios que têm em conta as perspectivas estratégicas da PT”. (Cristina Figueiredo, no Expresso);
- Interesses - Antes de mais, a declaração de interesses: o Expresso é parte do Grupo Impresa, que detém a SIC, concorrente da TVI. Dito isto, achamos lamentável o modo como estava a decorrer o negócio entre a PT e a TVI a que o Governo, depois de acesa discussão e intervenção do PR, pôs fim. Não entendemos que o Executivo tenha afirmado nada saber de um caso que nós sabemos claramente que era do seu conhecimento. Não compreendemos como esse negócio estava a ser discutido em época de eleições, envolvendo uma empresa (a PT) onde o Governo tem — como se viu — enorme influência e poder e um canal que o primeiro-ministro declarou non grato. Não percebemos como se achou normal o Estado ficar com influência em três dos quatro canais abertos e em dois dos três canais de informação. Temos uma chave, bem mais simples, para o que se passou. A Prisa precisa de vender a TVI, mas o Governo português não quer que o canal seja comprado por qualquer um. É algo que todos os Governos (e não apenas este) fariam. Por isso, achou que estaria bem entregue à PT, empresa milionária, disposta a pagar bem e sempre amável para quem está no poder. O negócio seria mau em qualquer cenário político. A independência da comunicação social merece muito mais respeito — como bem disse Sócrates... em 2004!" (editorial do Expresso);
- A Prisa quis, o Governo sonhou e a PT ia fazendo - Todo o negócio foi falado entre Sócrates e Zapatero. Mas a sua divulgação deixou a PT sozinha. O negócio da compra de 30% da Media Capital (MC) pela Portugal Telecom (PT), sob forte suspeita de se tratar de um favor político do operador histórico ao Governo, morreu ontem às mãos do primeiro-ministro. “Comuniquei ao ministro das Obras Públicas que os representantes do Estado não votarão a favor deste negócio”, afirmou José Sócrates, deixando claro que o Estado usaria os poderes de veto que lhe dá a golden share (acções com direitos especiais) na PT para travar a compra da dona da TVI. “Compreendemos o interesse empresarial da PT. Mas esperemos que possa prossegui-lo de outra forma, porque o Governo não quer que haja a mínima suspeita de que a compra de parte da TVI se destina à alteração da sua linha editorial”, acrescentou Sócrates, que acusou diversas vezes o canal de Queluz de o perseguir. Mas o Expresso sabe que desde Janeiro o Governo admite em círculos restritos que a PT podia ser a compradora da Media Capital. O primeiro-ministro foi pressionado a demarcar-se inequivocamente da operação, depois do Presidente da República, numa tomada de posição inédita face a um negócio entre particulares, ter afirmado que, “por uma questão de transparência” e “face às fortes dúvidas instaladas na sociedade portuguesa”, a PT deveria explicar o que se passava entre ela e a TVI. Sócrates puxou assim o tapete ao presidente da PT, Zeinal Bava, que tinha ido na véspera à RTP mostrar que o negócio tinha racional económico, carácter estratégico e seria para se fazer. Aliás, era essa a mensagem que borbulhava nos bastidores da operação: a imprensa dava como certa a conclusão do negócio e garantia que José Eduardo Moniz, ao contrário do que a MC e a Prisa pretendiam, iria permanecer na TVI. A ideia de que o negócio avançaria mais cedo ou mais tarde, apesar das pressões dos partidos políticos, ganhou força quando a MC fez um comunicado a confirmar as negociações e a elogiar a operação. Foi tarde de mais: a compra de 30% da MC, por €150 milhões, noticiada pelo jornal “i”, ficou pelo caminho" (jornalistas Anabela Campos e Ricardo Costa do Expresso);
- PS ainda sob pressão no negócio PT/TVI - Pressão sobre a maioria PS por causa do negócio PT/TVI vai continuar na Assembleia da República. O Bloco de Esquerda vai confrontar outra vez os socialistas com um projecto que impede a operadora de telecomunicações de ter participações em órgãos de comunicação social. O CDS-PP quer Mário Lino a dar todas as explicações. José Sócrates acabou com o negócio da PT para compra de parte da TVI mas o caso, politicamente, ainda não está dado como encerrado. A oposição vai continuar a explorá-lo no Parlamento, mantendo pressão sobre a maioria socialista. O Bloco de Esquerda, por exemplo, tenciona ressuscitar um seu projecto-lei anti-concentração dos média, já chumbado em Outubro de 2004 pelo PS (conjuntamente com o PSD e o CDS-PP) que objectivamente impede a PT (uma empresa de distribuição) de entrar em empresas de comunicação. O projecto visa também visa impedir que uma entidade privada pudesse "ter qualquer participação" em "mais do que um canal de televisão de difusão por meios hertzianos analógicos de âmbito nacional" (jornalista João Pedro Henriques, do DN de Lisboa);
- Veto combinado ao telefone entre Sócrates e Mário Lino - Entre José Sócrates e Mário Lino a monitorização da evolução deste caso foi sendo feita ao telefone. Anteontem à noite o primeiro-ministro e o ministro das Obras Públicas não se encontraram. O primeiro-ministro teve um jantar com personalidades da economia e da cultura (ler página 12) e isso tornou impossível um contacto pessoal. Foi ao telefone que os dois concertaram a argumentação para ontem: anunciar o veto ao negócio, tarefa de que se encarregaria o primeiro-ministro, no Parlamento, à margem de uma interpelação ao Governo, sobre saúde, promovida pelo PCP. Mário Lino, pelo seu lado, convocou ao seu gabinete, no Palácio dos Condes de Penafiel, em Lisboa - a dois passos da sede nacional do CDS-PP, no Largo do Caldas - os dois chefes máximos da PT, Henrique Granadeiro (presidente do conselho de administração) e Zeinal Bava (presidente da comissão executiva), a quem transmitiu a "recomendação" governamental para que o negócio não prosseguisse" (jornalista João Pedro Henriques, do DN de Lisboa).
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Veja ainda
- Governo sabia do interesse da PT na TVI: Sócrates estava a par do negócio desde o início do ano, segundo o Expresso (video com a notícia da SIC, aqui);
- O negócio PT/TVI em síntese: Governo acabou por suspender processo em curso (video com a notícia da SIC, aqui);
- O que Sócrates dizia em 2004 - PM contra participação, directa ou indirecta, do Estado na Comunicação Social (video com a notícia da SIC, aqui);

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