segunda-feira, junho 29, 2009

Lamentável

Há coisas que me surpreendem. Pelo absurdo, pior, pelo abuso - para não adjectivar de outra forma mais contundente - deixando um rasto de suspeição e de polémica. O pior que pode acontecer a uma sociedade - graças à proliferação de comportamentos duvidosos, polémicos e protagonizados por gente sem escrúpulos, e que só pensa em encher a pança, decidindo as coisas em função do sucesso das aldrabices que fomenta, das manipulações ou das pressões que despoletam, arrastando, directa ou indirectamente, para um pantanal lamacento, pessoas sérias a quem cabe a tomada de decisões políticas de responsabilidade, e que são enganadas - é que cresça e consolide a suspeição de compadrio ou de corrupção, como se ninguém pudesse resistir a esses "cancros" das democracias, e como se a pouca-vergonha de gente sem escrúpulos e pouco séria fizesse lei, atropelando e levando à sua frente tudo e todos, perante a indiferença ou o fechar de olhos colectivo. Há coisas, francamente, que me fazem lembrar aquela história da mulher de César que "para parecer seriam, não basta parecer, ela tem que ser séria". Não acredito que não existam mecanismos para que certos procedimentos e decisões, sejam devidamente investigados. Cito a propórito Matias Aires, ("Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna"): "Os que crêem que sabem mais que os outros, ou se enganam, ou se persuadem bem: se se enganam, o mesmo engano lhes serve de ludíbrio; se se persuadem bem, a vaidade da ciência os faz tão ferozes, e severos, que ficam sendo insuportáveis. A ciência humana comummente se reveste de um ar intratável; imagem tosca, desagradável, e impolida. A especulação traz consigo um semblante distraído, e desprezador; quanto melhor é uma ignorância educada. Toda a ciência se corrompe no homem; porque este é como um vaso de iniquidade, que tudo o que passa por ele, fica inficionado: as coisas trabalham por se acomodarem ao lugar donde estão, e por tomarem dele as propriedades, só com a diferença, de que as cousas boas fazem-se más, porém estas não se fazem boas. Nas sociedades, o mal é mais comunicável; a perdição é mais natural; o que é bom, mais depressa tende a perder-se, que a melhorar-se; os frutos da terra quando chegam ao estado de maturidade, nem persistem nele, nem retrocedem para o estado de verdura; antes caminham até que totalmente se arruinem; por isso o último grau de perfeição, costuma ser o primeiro na ordem da corrupção".

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