sexta-feira, março 28, 2008

Comunicação: “Era uma vez...fábulas, romances, quotidianos. Imagens da vida privada nas telenovelas portuguesas”

Este foi o título do trabalho de Rita Cheta e Sofia Aboim, divulgado pelo OberCom, no passado mês de Outubro 2007, mas que me parece interessante: "Em que medida correspondem as imagens ficcionais da família e do casal, da sexualidade e das relações entre homens e mulheres, aos cenários reais da vida privada no Portugal contemporâneo? Esta era a nossa pergunta inicial, para a qual não encontrámos respostas fáceis. A principal dificuldade com que nos deparámos reside no facto de os estilos de telenovelas em emissão serem tão diversificados que é impossível responder de uma única vez a esta questão. Com efeito, as imagens veiculadas pelas telenovelas primam por uma grande diversidade normativa, oscilando permanentemente entre componentes tradicionalistas e modernistas. Essa mistura está presente quer na grelha de programação da SIC e da TVI (Jura a seguir a Floribella na SIC), quer no interior das próprias narrativas, atravessadas, umas mais outras menos, por oscilações entre representações tradicionais da família e do género e temas actuais, vanguardistas ou marginais, como procurámos demonstrar ao longo desta análise. O próprio processo de transformação do folhetim tradicional em narrativas mais contemporâneas pode conduzir a estas sobreposições. Mas, na verdade, a pluralidade e a cumplicidade entre traços diferenciados fazem também parte da realidade portuguesa, como têm comprovado vários estudos. Em Portugal tende-se a aceitar enquanto comportamentos legítimos o divórcio, as uniões de facto e os filhos nascidos fora do casamento, as famílias monoparentais, o trabalho profissional das mulheres (ao mesmo tempo que se deseja maior participação doméstica dos homens), formas mais liberais de estar por parte dos jovens, etc.. No entanto, o conservadorismo ressurge quando o tema é a maternidade, a independência sexual da mulher ou uma individualização muito forte face ao grupo conjugal e familiar. Desse ponto de vista, existe multiplicidade e ambiguidade normativa tanto na realidade como na ficção, muito embora nesta última os traços apareçam demasiado polarizados, exacerbados, e, por isso mesmo, frequentemente longe das vivências da maioria dos portugueses. Uma primeira conclusão importante da nossa análise deve, por isso mesmo, sinalizar esta grande diversidade interna às telenovelas, bem como a preocupação, sobretudo nas novelas quotidiano e romance, em actualizar estilos mais tradicionalistas, focando temas e problemas dos indivíduos nas sociedades contemporâneas. Uma segunda conclusão assinala, por outro lado, que a construção da ficcionalidade se produz numa relativa distância entre ficção e realidade. Nas novelas fábula, as famílias, as relações inter-pessoais e as personagens são as de um folhetim tradicional, dinástico e pouco complexo em termos narrativos; nas novelas romance, os enredos acabam por gerar alguns paradoxos resultantes da colagem de elementos contemporâneos a histórias clássicas de famílias ricas e dinásticas e famílias pobres mas honestas; nas novelas quotidiano, alguns traços de modernidade aparecem descolados do contexto social mais alargado e transmitem mensagens pouco consistentes de um ponto de vista moral”. Um estudo disponível aqui.

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