sábado, julho 28, 2007

Madeira: Chão da Lagoa (VI)

Uma poncha mágica
Ribeira abaixo, ribeira acima, numa das ruas principais do Funchal, o carro anuncia no altifalante a segunda cabeça-de-cartaz do mais concorrido arraial do arquipélago. “Tony Carreira e sua banda” vão estar amanhã “ao vivo” no planalto do Chão da Lagoa, nos arredores da cidade. Já a terceira cabeça de cartaz (a primeira toda a gente está farta de saber quem é) nem uma linha tem dedicada a si nos folhetos promocionais da festa anual do PSD-Madeira. Marques Mendes, presidente do PSD, parece estar por sua conta e risco na vinda à maior concentração de sociais-democratas em Portugal, com uma fila infernal de 190 autocarros e 40 mil militantes esperados (um sexto da população madeirense) a partir das 8 horas da manhã. A adesão deverá ser ainda mais massiva do que em anos anteriores, depois do partido ter ganho as eleições em Maio último com 64,2 por cento dos votos (tinha tido 54% em 2005) e quando o conflito com o Governo da República está próximo do zénite.
Em início de campanha interna para se recandidatar a líder do PSD, o sucesso da presença de Mendes dependerá quase exclusivamente da boa vontade de Alberto João Jardim, que terá de lhe abrir caminho para a consagração popular no palco. “Mas não sei se ele o deixará ser o último a discursar”, diz Coito Pita, deputado ao Parlamento regional. “Só com Jardim a falar no fim é que haverá festa”.
E a festa começa cedo. Jardim vai chegar ladeado por Marques Mendes às 10 horas da manhã para o tradicional «rally» das barraquinhas. São 52 paragens obrigatórias - uma por cada sede de freguesia - e todas elas têm poncha, vinho ou uísque para oferecer ao líder regional do PSD. A ele e ao seu convidado de honra. Até agora, o único presidente do PSD que foi capaz de o acompanhar na corrida à poncha foi Marcelo Rebelo de Sousa, se bem que recorrendo (segundo foi publicado na altura pelo ‘Diário de Notícias da Madeira’) ao apoio providencial de José Luís Arnaut, que na altura o salvou do coma alcoólico ao ir vertendo discretamente no chão o conteúdo dos copos.Embora diga que vem como presidente do PSD e não como candidato a presidente, Marques Mendes não esconde que gostaria de levar para casa um bom trunfo para as eleições directas do partido. São dez mil militantes com as quotas em dia (metade do universo do continente). A questão é saber até que ponto não chamuscará a sua figura em Lisboa caso alinhe nos discursos incendiários do Chão da Lagoa, num tom que toda a gente no Funchal espera ainda mais radical que no passado, na ressaca da aprovação da muito contestada Lei das Finanças Regionais (que levou Jardim a demitir-se e a ir a novas eleições) e em plena crise da Lei do Aborto, que o executivo do Funchal se recusa a aplicar. A piada já circula: “Desta vez, Jaime Ramos não vai falar de autonomia. Vai apelar à independência. (fonte: Micael Pereira, Expresso)

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